segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Estranhamente, eu.


Um sorriso inocente, o rosto infantil, no entanto um tanto arisca. A garotinha escondia-se atrás de respostas calculadas, inacabáveis explicações e lindas máscaras. Todas as manhãs, a rotina era repetida sem reclamações, ao menos aquela, pós, blushes e cores pálidas e sombrias maquiavam a fragilidade (= = medo). Quiça ninguém a notasse!
Desesperadamente apaixonada pelo avesso do mundo, apaixonou-se pela limitação: do real, da imaginação, do sobrenatural, do humano, indiscutivelmente, pela sua. Por isso, já não usava mais espelhos, pois toda a imagem era dobradura do real, planamente concebível. E a vida, havia tomando uma estrada distinta, talvez côncava, que exigia outra representação.
Não mudou quando imploraram. Coerente, talvez, com a sua estranha natureza: sumiu, fugiu, destruiu. Inevitavelmente, ela voltará...quando a esquecerem.
Senão será você, virtual!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Será?


Foram dias de liberdade, sem nostalgia alguma do nosso encontro. Mas aí, sem querer, andando pela rua meus olhos se encontraram nos teus. Naturalmente, minhas mãos congelaram, o coração mudou de ambiente e pulou para a garganta.
Você passou.
Não olhou.
Dessa vez, as promessas tentavam beijar outros lábios...
Será que ainda lembra de mim?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Além

A língua passava sobre os dentes,
só sentia o gosto amargo e áspero
do último beijo roubado.

O nojo corroia as sementes,
trazendo como ânsia o vício.
Escova. Pasta. Fio.
Sem nenhum sacrifício.

A esperança maquiavélica
desenrolava frenética
diante o ego mágico
do espelho apático.

O dente afiado
desmanchava as cedras que
limpavam o cheiro de passado
fincado em mim.

Rasgaram os lábios.
Sangraram os dentes.
Petrificaram a gengiva.
Sem préstimo.

O gosto da lembrança
sempre renasceria no ar.
Com asco da esperança
a boca soprava o cuspe para marcar.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Indicativo

 Perfeito
Eu supliquei
Tu suplicaste
Ele (apenas) riu

Inperfeito 
Eu suplicava
Tu suplicavas
Ele ria

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

RJ


Sempre que passear pelos Rios da minha aldeia... cairei em ti.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Sem rotina


Cansei de ser a garota certinha. Hoje, resolvi fazer tudo que a minha mãe desaprovaria...

Menti, quando me acordaram para perguntar se haveria aula, só para dormir durante toda a manhã. Na hora de me arrumar para o trabalho, vesti uma roupa além do que a minha personalidade permite e com mais decote que seria adequado para um ambiente formal. Mudei o discurso do entrevistado, não só coesão, mas verbos, advérbios e sentido também, que poderão me levar a outro Tribunal. Xinguei um casal de velhinhos que atravessava lentamente na minha frente e todas as pessoas que tomaram as dores dele. Falei com invisíveis. Peguei carona com desconhecidos. Beijei estranhos, isso mesmo, mais de um. Gastei meu salário num único dia, com um vestido para o fim de semana. Desliguei o celular. Bebi mais de um ice. Cheguei bêbada em casa, depois das 4h. Vomitei na sala e levei uma surra da minha mãe por não ter dado notícias.

Meu único arrependimento é ter inventado tudo isso para dar a minha segunda - feira mais aventura.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Suposição


Percorri o mundo tentando encontrar...Pensei ser Afrodite, Cleópatra, Helena, mas quando encontrei Amazan, semideus de Voltaire, entendi o quanto os homens são hipócritas e covardes. Todos os espelhos me enganaram..renasci como uma fénix.
Encontrei-me no meio do oceano, encharcada de sal, mas não entendia tanta lágrima. Por que tanto choro se não sinto fome, nem frio? Nem ao menos sofro a mazela de uma maldição. Sofrimento (?). Não, meu leitor, não sei o que é rezar pela alma de um filho perdido na guerra do mundo, nem fui marcada pela rosa radioativa, que li no poema de Vinícius.
Sinto como se estivesse na câmara de gás nazista, onde morreu Olga Benário, com uma significativa diferença: ela teve força para gritar, denunciou seu desespero. A sociedade, comovida, tentou salvá-la dando oxigênio, mas a fonte secou... Certamente, eu morreria aos ventos.
Se o destino fosse outro? Se eu tivesse nascido Drumond: marcaria a Literatura Universal? Se nascesse Ana Botafogo: deixaria minha alma nos belos teatros? E se fosse Tarcila do Amaral: seria um gênio revolucionário na pintura? Comporia as divinas sinfonias se tivesse a loucura de Mozart? Pois respondo, leitor, não poderia dar à humanidade tantos incensos, ouros e mirras.
Contento-me em ter respirado tantos deuses. Minhas lágrimas rolam melhor nos textos de Clarice, meus sorrisos encantam mais nos palcos com as bailarinas. Minha dor espalhou com a abertura da caixa de Pandora, mas cicatrizou com a música angelical e a poesia divina.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Vivendo em sonhos



Deveríamos poder caminhar livremente pelas ruas, como se desfilássemos nas nuvens, ao som das mais belas sinfonias de Mozart, Bethoveen e Bahr...Assistindo a doces paisagens naturais nos confundir às mágicas obras de Miquelângelo, Tarcila do Amaral, Landi. Ouvindo pequenos sabiás recitar poemas de Drumond, Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Vinícius de Moraes, transforamando-nos em ninfas, fadas, eufos...Ilusões.
Ah! Poderíamos viajar por lugares diferentes, reais, imaginários...viajar pelos rios do nosso corpo, desaguar nas cataratas do nosso coração, voltar por um lago de águas termais e entrar na misteriosa gruta do nosso cérebro, brincar com os "neurodoendes", correr atrás das células da glia...e voar , através das sinapses, para florestas encantadas, onde a neblina cobre a identidade e os pensamentos...Conhecer o deserto do Pequeno Príncipe, ver montanhas que flutuam no céu, desvendar o Olimpo para pedir um pouco da loção de Afrodite, conversar com Atenas, conhecer Eros...Fechar a caixa de Pandora e ir na asa de Pégasus ao cemitério onde está Giselle, para pedir às almas encantadas, das virgens que morreram por amor, que ressucitem Tom Jobim, Galileu, Sócrates, Renato Russo, Cazuza, Olga Benário, Joana Darc...para que liderem uma Revolução de sonhos, feita pela literatura, cultura, ciência, filosofia, arte...Defendendo sempre a ética, a liberdade e a cidadania.
Queria mergulhar nos livros, calar as suspeitas de Bentinho sobre Capitu, ajudar Lucíola, curar Brás Cubas do emplasto, Salvar Carmen do amor doentiu de Don José, prender o triste grito da jandaia, para não ouvir: Iracema! E mais tarde ver o cajueiro florescer quatro vezes...
Queria poder mudar a História...soprar as caravelas de Cabral para o outro lado, impedir a chegada do nazi-fascismo ao poder, censurar as ditaduras, proibir a entrada de corruptos no Palácio da Alvorada, vetar a decisão dos EUA em invadir o Iraque, o Irã, o Afeganistão...
Quero contemplar o encontro da lua com o mar, sentar embaixo de uma árvore, sentir o perfume das rosas brancas da vida. Quero acordar com os primeiros "raios de sonho" refletido no orvalho da madrugada.
Ah! Só quero voltar quando o Mundo acordar de seu pesadelo...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Inconsciente

Vasculhar o passado me traz de volta aquele antigo frio na barriga de quando escutava, com a pronúncia sussurante, encantadora e sincera: namorada.
Aí, lá vem a saudade nascendo no estômago, percorrendo em seco meu corpo até explodir na minha frente e voar ao teu encontro. Nessa hora, exatamente nessa, o tempo parece ter voltado à primavera. Se fechar os olhos, consigo escutar a canoa cortando o Rio...

Na "Terceira margem" as glias calam os impetuosos gritos: o silêncio dói mais que a ausência.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Flor de lis


Todos os dias, espero ansiosa a chegada da carta proibida - garantida, quiça com o pôr-do-sol. As letras tomarão conta dos nipes, sem que o futuro seja passado.










(A resposta está na semiótica)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Cópias perfeitas de uma realidade ficcional


Mãe e filha subiram pela porta de trás do “Pedreira Lomas”, próximo a seccional da Pedreira, na Av. Pedro Miranda. A mãe, Daiane Silva (20), falava alto com a pequena Ticiane (4), todos olhavam, alguns incomodados; outros curiosos. As duas de mãos dadas dirigiram-se à frente do ônibus, os passageiros acompanharam-nas com os olhos, ambas com vestidos surrados, descabeladas e sujas, cópias perfeitas em tamanhos diferentes.
Daiane começou a falar: “Senhores, desculpem por incomodar a viagem, mas estou aqui por questão de ‘precisão’, não vendo bombom porque gosto. Se puder me ajudar, agradeço”. Indiferença, essa foi a reação dos passageiros, então a ambulante renovou o marketing: “Sou ex-presidiária, fiz muita coisa errada moço”, falou tocando no rapaz em seu lado esquerdo. “Mas, não quero voltar para aquela vida não, por isso me ajuda, compra uma balinha. Só R$ 0,10 centavos, não mata ninguém”. A criança começou a chorar e puxar a mãe pela barra do vestido, gritando: “Mãe, to com fome”, insistiu várias vezes. Ela parecia só decorar o seu papel, sem que os pagantes exigissem bis.
Comprei algumas balinhas, para me aproximar e fazer algumas perguntas. Ela aceitou responder, em troca queria algumas moedas para comprar comida para a menina. Descemos na mesma parada, próximo a praça Santos Dumont, antiga praça Brasil. Descalça, Ticiane reclamava do asfalto quente, que o sol das 13h castigava. A mãe aborrecida carregou-a. Entramos numa portinha, um pequeno restaurante, pedi duas sopas. Entre uma colher e outra, Daiane relatou como a vida a transportou àquela realidade.
Começara a roubar aos 14 anos, influenciada pelo namorado, pai de Ticiane. 1 assassinato. Presa diversas vezes por furto. Segundo ela, o remorso só vinha a noite, quando contabilizava o lucro do dia. Quando descobriu que estava grávida, se recusou a continuar, passou a vender doces nos transportes coletivos da região metropolitana de Belém. Entra no primeiro ônibus às 7h da manhã, com Ticiane, no colo, dormindo ainda. Passa das 20h, quando volta para casa, na Pratinha.
Qual seria o sonho daquela jovem? A resposta veio com os olhos frios e calculistas, que a garota insistia em baixar quando a encarava: “Queria vender todos esses bombons e comprar uma boneca para ela”, despejou a confidência, acariciando os cabelos da pequena. O saco de balas ainda estava pela metade. As duas agradeceram a sopa, levantaram e saíram atrás de um novo transporte. Coloquei na boca uma das balas, pensando em como descrever o episódio sem parecer ficção. Lá ia a esperança...

[Série: reportagens]

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Saudades do Pará


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A noite estava fria, uma leve brisa marítima balançava seus cabelos, mas o entusiasmo de rever sua terra, mesmo que só pelos ritmos, encantava. A ansiedade era interminável. Os minutos eram intransponíveis. Andou. Sentou. Falou. Escutou. Aquietou. Iniciaram os batuques. Carimbó. Siriá. Lundú. Iniciou aquela música que entrava pelos poros e magicamente renovava, modificava, movimentava. Cantou alto. Gritou. Dançou. Ensinou. Embalou. Suou. Emocionou.
Sentira falta das coisas pequenininhas que só a Cidade das Mangueiras tinha. O calor. As rodas de Carimbó. O regionalismo pulsante das ruas. O açaí com farinha. A chuva das três. Os significativos 'Éguas'. O cheiro do rio. O som da morena nortista dançando lundú na beira da Bahia do Guajará. Ela não abandonou as raízes.
Tirou as sandálias. Fingindo por as mãos na saia dançava, bailava, rebolava, sonhava. Nem imaginava ser alvo de curiosidade. Ela esqueceu o mundo, doou-se novamente aos antigos passos, aos giros, as batucadas. 5h dançando sem parar. Diminuíram o volume, cessaram as frequências musicais. O cansaço tomou conta do corpo que só era saudade. Reencontrou novos conhecidos, todos encantados com a cultura paraense. Ele se aproximou. Ela ainda eufórica pelo orgulho de seu berço. Ela não parava de falar, mas ele conseguiu o silêncio absoluto com apenas uma pergunta. A resposta foi de fazer tremer.
Ele se aproximou, passou a mão direita pela cintura dela e beijou-a. Um beijo carinhoso e sem compromissos. Ele não sabia o que pensar. Ela decididamente sentira um frio na barriga, que a fazia recuar. A noite acabou.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Simultâneo



Ela
Seminua. Os lençóis transpareciam as curvas, com apenas um propósito: ludibriar. Aprendera com o circo mágico técnicas de transformação.
Despertou lentamente, sem mover muitos músculos, para não despertar o maestro. Os olhos abriram com delicadeza, revelando o som pulsante das castanholas de [fazer] Pará. Nenhum maestro. Nenhuma alegria. Nenhuma maquiagem. Ela levantou. Percorreu vagarosamente na meia-ponta pelo camarim, rodeado de espelhos. Pelo cenário, 13 máscaras espalhadas, marcando o percurso. Sentira falta de uma, mas só pensara. Tocou do lado esquerdo do rosto, a pele fina sem cobertas, surpreendeu-a.
Mais passo à meia-ponta. Coxia. Foco de luz no canto oposto. Aplausos. Palco. Atordoada, pelas antigas paixões, recua. Fumaça. Translúcido. Neblina. Curiosa, cria coragem para voltar a receber os aplausos. Sons irreconhecíveis. Ela continua andando. Mais fumaça. Seria o maestro? Relembrou as pirouets, os bourrets e os saltos sensacionais da vida passada. A música parou. Entre avanços e retraídas aproximou-se do irreal. Alcançou o foco. Apenas as fumaças. Enlouqueceu.
Rodopiou. Brincou. Dançou. Saltou. Caiu. Caiu. Caiu deitada no alçapão do Teatro. Encantada, quebrou colombina.


Ele
Insônia. Mais uma noite acordado. Virou para o lado, ficou admirando os detalhes da desconhecida, querendo guardar a imagem, para mais tarde reconstruir.
Não tocou. Não afagou. Não acariciou, apenas contemplou. Não queria que ela despertasse dos sonhos. Levantou compassadamente, para evitar sustos. Pegou as roupas, atiradas no chão, vestiu-as com cuidado. Passou pelas conquistas. Dele. Dela. 13 distintas máscaras. Tocou do lado direito do rosto, nenhum sinal de maquiagem. Sorriu lentamente com o canto direito da boca, surpreso. Sucumbiu a felicidade. Pegou o violão. Andou. Beijou o palco. Lembrou dos antigos rituais. Acendeu um cigarro. Sentou no banquinho.
Apagaram o colorido. Escuro. Foco de luz amarela. Aplausos. A palheta percorre 6 cordas, revelando som. Só aqueles olhos amendoados remontavam novas notas. Todas aleatórias. Aplausos. Novos cigarros. Muita fumaça. Dó. Si. Lá menor. Dó maior. Os acordes pararam. Decidido em conquistá-la se apressou. Levantou. Saiu pela coxia lateral. Disposto a se declarar súdito da beleza, movimentou. A coragem de refazer o diferente trouxe um riso de pavor. Entrou no camarim.
O sorriso se desfez. No cenário, apenas máscaras. O espelho revelou, no lado esquerdo do rosto, Pierrot.

Surpresa




Compulsivamente elas caiam, sem que pudesse controlar, sem que tivesse força para impedi-las. Há anos elas não apareciam. Não nasciam. Não morriam. Elas desesperavam, maltratavam, mas ainda assim confortavam meu coração desamparado. O silêncio era lamento. Os olhos de vidro fixados na loucura, no ápice da minha felicidade e do meu descontentamento.
Ela partiu! Nem ao menos olhou nos meus olhos. Nenhum abraço. Nenhum carinho. Apenas partira como de costume, de surpresa. Só conseguia pensar que nunca mais escutaria aquela voz doce e melosa, pedindo café da manhã na cama. Nem ouviria aquela gargalhada contagiante diante das minhas insistentes cócegas. Nem limparia aquelas lágrimas de felicidade após um simples sorvete de morango, nosso preferido. Não veria o sorriso nascer timidamente ao som de um elogio.
Ela partiu. Ela partiu. Ela partiu. A frase pulsava doloridamente nas veias cada vez que recordava a ingenuidade com que aquele amor nascera. A vingança acomodava-se em meu peito quando uma lágrima nascia, descia, banhava. Assustava.
Em acessos de loucura tirei-a do seu novo casulo. Beijei. Abracei. Resmunguei. Refiz minhas promessas. Declarei meu amor. Fria. Imóvel. Não respondeu, calou.
O silêncio gritou nos meus ouvidos: REALIDADE! A fúria da dor bagunçou meus sentidos. As imagens perderam os cheiros. O som ficou sem cores. E o silêncio cantava: A - DEUS!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Insônia


Os olhos estavam pesados. Preguiçosos! Levantei com a cabeça zumbindo, depois de passar a noite em claro, pensando nos sonhos que podiam ser realidade. Tento viver com tanta intensidade, que prefiro não dormir para não perder o tempo do progresso. Mas, com toda a tecnologia e velocidade, ainda há o contraste com o silêncio completo. Depois, vem a saudade de um futuro que só consigo construir HOJE.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Canoas


Nas águas barrentas da Bahia do Guajará, diversas canoas multicoloridas, em frente ao Ver-o-peso, passavam o dia enfileiradas. No início da tarde, quando os pescadores descansavam, as crianças brincavam de corrida pelas pequenas embarcações. Elas misturavam-se as cores, criando o branco, o monocromático. Apostavam. Gritavam. Bagunçavam. Riam. Balançavam. Chacoalhavam. O rio ajudava, trazia uma sensação de embalo maternal.

Quando acabava a cesta dos trabalhadores, voltavam às gritarias, mas desta vez de temor. Reiniciavam as correrias. A cor amarelada das águas, agora era fuga, máscara, esconderijo. Só dava tempo de escutar o rio acolhendo. Nenhum rosto era reconhecido. Do outro lado do cais, curumins davam as gargalhadas de todos os dias. Zombavam. Irritavam. Gracejavam.

A calmaria reconstruía o cenário, após as injúrias imprecadas pelos adultos. Agora, as cores, apenas elas, agitavam a imagem. Amanhã será um novo dia. [Re]Começará a esperança de se[r] [a]mar.

domingo, 13 de setembro de 2009

Sobressalto


Todos cantavam alto, as gargalhadas eram irritantemente contagiantes, os movimentos a tiravam da inercia. Os olhares estavam baixos, o sorriso incosciente nascia no canto dos lábios, tentando equilibrar a razão e a sensibilidade, no entanto a lembraça das promessas despertaram aquele antigo sentimento, trazendo saudade. Os olhos arderam. Piscaram. Fecharam. Derramaram lentamente duas gotas de orvalho, que desceram suavemente pelas pétalas da rosa da primavera passada, que ela carregava na mão.

Enigmática, traduziu tuas atitudes sem que palavra alguma ressoasse, ela sabia que "jamais assumiria um sentimento e se exporia de tal forma a parecer o mínimo submissa ou condescendente*", mas por ti ela foi o avesso. Desta vez, o [re]verso fugil do roteiro. Ela foi tua antes mesmo que concordasses, tirou teu chão, deixou-te pusilânime, sem pensar em subterfúgios. O palco traz tragédia ou comédia? Sobressalto!


*frase do romance "Meleb"




quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Eco


Ela regressava para a crisálida, com a ânsia de abraçar alguém. Um grito sem argumentos, passara o dia ecoando na cabeça, engasgando-a. A discórdia permanecia, o rosto aparentava um leve malquistado, mas a tristeza era devido aquela palavra forte e melancólica que ela evitava pronunciar, medo.
Naquele dia, pediu para sair mais cedo do trabalho, precisava de um banho frio. Decidiu voltar andando para casa, preferiu o caminho mais longo, indubitavelmente as paisagens tornaram-se imperceptíveis.
As gotas quentes escorreram pelo rosto, as mãos foram ficando geladas. Tudo ficou vermelho. Mas, no canto da boca nascia, naturalmente, um sorriso, quiça pela liberdade conquistada durante o vôo, até o destino atual. Impulsiva, abraçou o futuro. O silêncio ecoava o sorriso...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

El amor


Al que se ama se le da la Libertad...



Sólo deséo que mi vuelo llegue a usted!

sábado, 5 de setembro de 2009

Casual


Cadeado quebrado. Nenhuma daquelas chaves do molho poderiam abrí-lo.
A senhora teimosia, apoiada numa bengala, continuava a bater com um martelo, quiça partisse.

Imprecou injúrias. Quando já não restava mais paciência, sentou no chão e dormiu.

A porta não abriu. Mas, as janelas ficaram escancaradas...

domingo, 9 de agosto de 2009

[re]Verso


Os olhos de Hades despertavam em mim curiosidade. Olhava o senhor do [sub]mundo insistentemente, procurando o motivo de tanto mal humor. Após longas análises, entendi, ele era o avesso de tudo. Aquelas respostas ensaiadas diversas vezes em frente ao espelho, esperando as ocasiões certas, na verdade, esperaram anos para serem arremessadas ao ânimo dos estúpidos. Tudo não passava de um amor imenso, frustrado.

As armilas do globo malograram-o. Esperava o porvir sem expectação. Sem muitas palavras, apenas as inteligentes, despertava temor nos bárbaros. Desta vez, o elmo mágico servia para dissuadir os mortais, proveu minha satisfação.

Aquela constante oposição deslumbrou meu compasso, grassando o [re]verso. Presenciei o Invisível nas suas diversas sedições. Perscrutei seu sarcasmo, quando encontrei - o num grande espetáculo.

Três dedos percorriam as cordas do violão, produzindo um som desconhecido, a inspiração vinha do assobio que parecia ilustrar as notas musicais com frações de fonemas, sememas, trazendo ironia e repúdio aos ouvidos.

Aproximei-me, talvez pela parecença, quiça pelo esmero. O reino dos mortos aceitou minha alma com grande hospitalidade, no entanto, ele partiu ao Olimpo, para curar-se da chagas aguilhoada por Hércules. Não restituirei o passado, mesmo que me torne sua sombra.



segunda-feira, 6 de julho de 2009

Aparição

Um dia ela enfim existirá
com um suplício de sonho
uns pingos de chuva no rosto
afogada no seu próprio (a)mar.

Sorrindo para além de si
no que foi real tropeçando
desprezando o que já teve um fim
fincada no seu submundo.

Em partir pensava
por um caminho que não conhecia
do seu próprio medo os olhos fechava
sem saber se seu passado voltaria.

Media o tempo entre os seus passos
e sua vida reincidia lívida
já que no vento riscava os traços
da lesta solidão que a mantinha rija.

Zombava friamente de sua timidez
e sua Dor simplesmente se desfez
quando viu na sua face triste
um rastro de Beleza que ainda insiste.

Lançando-se ao porvir
ousou imaginar
que somente a poesia poderia lhe sentir
e dançou sobre o (ri)mar.



Parceria: Jússia Carvalho & Wanilson Vate

terça-feira, 30 de junho de 2009

A minha escolha...


Minhas mãos ficaram frias. Os olhos encheram de lágrimas. Sabia que tudo poderia dar errado dali para frente. Abri a porta, corri para abraçá-la, mais uma vez foi o colo dela que calou as minhas dúvidas e confortou os meus sentimentos, com a força certa, mostrou-me que meus pensamentos podem interferir nas minhas atitudes, mesmo inconscientemente. Longe, pareço uma criança que admira romanticamente sua mãe. Perto, sou apenas uma garota que escuta todas as histórias atentamente, esperando absorver seu conhecimento.
O espelho estava a minha frente, sentia medo de abrir os olhos, ela segurou em minhas mãos, incentivou minha coragem e meus sonhos. Aprendi a olhar ao meu redor, ora tirando os pés do chão, outra pousando forçada. No começo, apenas, o respeito. Hoje, o amor incondicional.
Passei anos tentando sair do mundinho encantado da Alice, procurando a realidade, majestosamente, com um estalar de dedos aquela senhora despertou-me do transe. Parecia irreal que a busca incessante havia chegado ao fim, desta vez um engano. Seriam, agora, passos a distância. O tempo passou.
A luz do sol batia timidamente, nos cabelos loiros, iluminava um pouco das páginas do romance. Aproximei-me, sentei ao seu lado, beijei seu rosto e lhe abracei, cochichando ao seu ouvido revelei: "Minha mãe, de coração, sempre estarei aqui, independente do tempo e dos acontecimentos. Amo-te, sem explicações". Ela apenas olhou em meus olhos e sorriu.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Uma carta


Meu bem,

hoje, subi ao sotão, procurava uma fantasia para a festinha à fantasia que a minha filha irá na próxima semana. No meio de tanta bagunça encontrei diversas caixas de fotos, bilhetinhos de cinema, papéis de bombons e 5 cartas suas, o número perfeito, você lembra? Juntei todas, cada uma despertou todas as minhas lembranças. Prometemos o mundo um para o outro, cumprimos agumas dessas promessas, outras foram esquecidas com o tempo, sem que ninguém entendesse.

Minha filha subiu correndo, chamando por mim, abracei-a, lembrei do nosso antigo sonho de ter filhos, das brigas pela escolha dos nomes e de onde iriamos morar. Chorei, com saudade das expectativas, dos sonhos não realizados, no entanto senti-me confortada por perceber que sempre estaremos juntos, que será eterno o que vivemos, mesmo que, apenas, no nosso passado.

Ela perguntou quem era na foto, sorri e disse: "uma pessoa que sempre foi especial, que não vejo a algum tempo, mas que sinto saudade.". Intrigada ela disse: "mãe, porque você não convida ele para vir jantar com a gente?".

Emocionada respondi: "Rafaella, talvez ele esteja ocupado, agora.". Ingenuamente ela insistiu: "Você deveria, mãe.". Descendo as escadas, falei que ligaria no dia seguinte.

Não esqueci, apenas não tive coragem. Talvez ainda encontre você...espero que não tenha nos esquecido.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Esperança

O vento balançava meus cabelos, sentia arrepio até a nuca. O céu estava escuro. Choveria. Deveria voltar correndo para casa, as gotas cairiam em mais 2 minutos, no máximo. Mas, não consegui. Continuei quieta, tentando me esquentar com a palma da minha mão direita, nada adiantava, os arrepios agora eram mais frequentes. Não adiantava ficar alí parada, esperando que um dia ele voltasse, foi assim por longas semanas. Ele não voltou. Meu coração ainda esperava. A respiração sempre vinha gelada, com gosto de sangue, mas com esperança. Só ESPERANÇA.

domingo, 24 de maio de 2009

Eu sei

Ouvir tua voz me trouxe aquela paz antiga e o desespero da saudade. Eu sei, não deveria te contar o meu dia, mas é que para sempre vai ser especial.

sábado, 23 de maio de 2009

mais chuvas

Passei o dia andando na chuva, com a cabeça baixa, procurando encontrar o teu rosto no meio da multidão. Quem sabe poderia te abraçar? E então, esquecerias todas as mentiras que contei a meu respeito. Juro eram verdade, mas mudei exatamente quando te conheci.
Meus cabelos molharam, as lágrimas ficaram misturadas às gotas de água, ninguém percebeu, foi a fantasia perfeita. Não chorei tua ausência. Sinto por não saber demonstrar que entendo o que me fizeste sentir. Agora, talvez seja tarde para falar alguma coisa.
Só não feche a porta quando sair...

sábado, 16 de maio de 2009

¡ Perdóname!


Tus ojos piden explicación, pero no puedo mostrarte lo que siento. No quiero poner todo a perder. ¡Perdóname!

sábado, 25 de abril de 2009

A-D-E-U-S

Quando olhei para trás estavas caida, tentei voltar, mas uma multidão nos separava. Gritei desesperadamente o teu nome, mas não me olhaste, não podias escutar. Continuaste fria, caminhando. Fiquei esperniando, batendo nas pessoas que me impediam de chegar perto de ti, mas a cada segundo o número de mãos aumentavam. Não consegui mais lutar, de cabeça baixa, vendo te levarem para longe, sussurei a-d-e-u-s. As lágrimas escorriam silenciosas, o coração apertado sangrava, parei de escutar o presente, só conseguia assistir a nossa infância, lotada de gargalhadas contagiantes.
Saudade, meu bem, saudade. Esse gosto de amor inacabado que deixa meu coração desemparado..

sábado, 18 de abril de 2009

Desencontro


As lágrimas parecem nascer nos meus olhos, mas timidamente não conseguem fugir pelo meu rosto. O espelho embaçou, nem a minha imagem pode refletir. Com os dedos ainda salgados e molhados, contorno o espelho, revelando o triste olhar que me contempla. Sinto, não posso voltar, as lágrimas agora caem desesperadamente, sujando a maquiagem. Quando te procurei vesti meu melhor papel de atriz, fui forte, guerreira, uma mulher cheia de coragem, olhei vibrantemente em teus olhos e me despedi, sabia que um dia tudo cairia, mas não seria em meu palco, com a minha plateia.

Hoje, me despeço como na nossa primeira carta.
Que seja eterno enquanto dure! O tempo passou...

O doce veneno desliza por meu corpo, mas só eu consigo enxergar essa dança honrosa.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Encontro


Não consigo mais nos encontrar nem em fotos antigas. Por onde andaremos?

Suplico, desesperadamente, que me encontres, depois da chuva da três, atrás daquela antiga mangueira. Fiquei alí, pertida, desde a última vez que nos vimos. Lembra?

segunda-feira, 9 de março de 2009

Meus olhos

O mundo virou uma grande exposição fotográfica em olhares preto e branco. Estudantes vão às ruas lutar por direitos. Funcionários fazem protestos contra salários mal pagos. Crianças ficam grávidas de psicopatas. Crianças viram psicopatas. Crise econômica mata plantações de esperança pelo mundo inteiro. Lá fora só há escuridão. E o que mais você queria? Os seres humanos perderam o bom senso, viraram escravos da aparência e da impulsão. Isso mesmo! IM-PUL-SÃO!!!!!
No passado, se você pretendia discutir com alguém tinha que marcar um encontro ou escrever uma carta, até chegar ao destino você repensava no que dizer, mas hoje, a comunicação facilita as brigas, pela instantaneidade.
Mesmo vivendo nesta realidade ainda consigo ver um arco íris no céu depois de um grande temporal. E você quer procurar o pote de ouro?

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Mentirinhas


Não tinha muito o que esperar. Sentei na cama. Olhei nosso antigo album. Chorei as lágrimas de saudade, e de desespero em descobrir que tudo não passou de mentirinhas bem fantasiadas, mas mentiras crueis e ponte-agudas, prontinha para me contaminar com toda a cólera do mundo, claro, depois de saber toda a verdade.



"Não me diga MENTIRINHAS dói demais...."

Nunca imaginei que um dia usaria isso!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Desculpas


As vezes machucamos quem nos dá rosas sem espinhos, sem motivos, por egoísmo e só isso...


As desculpas nascem na boca, mas não tem coragem de pular de paraquedas, voltam e queimam, queimam no coração.


As lágrimas não escondem o despero em não saber o que fazer e o tempo, ah o tempo, cobra juros por não se ter feito o certo a primeira vez, nem a segunda. Perdão!

sábado, 31 de janeiro de 2009

Salve a Amazônia


Ilmo Ministro, Carlos Minc,

o senhor é a minha última esperança. Tudo está pegando fogo. Acuda! Corra! Depressa, nossa vegetação - o que nos restou dela- está tomada pelos incêndios criminosos, brutais. Sofremos com a perda dos nossos ancestrais, desde a chegada dos portugueses, que levaram o pau-brasil para sustentar as cores dos modelitos de suas senhoras. Depois, veio os desmatamentos para o cultivo da cana-de-açúcar, café, mineração, sempre para defender os interesses de uma elite egoísta e inconseqüente. Agüentamos...

Tudo piorou com a industrialização tardia da década de 1930, no governo Vargas, quando muitas áreas de vegetação deram lugar à grandes fábricas, cheias de elementos tóxicos, matando o mundo. Agora, com a urbanização celerada, prematura, adolescente, estamos acabando. Basta! Queremos viver, exigimos Providências.

Todos os dias, ministro, vemos o sol nascer mais perto e frio, congelando nossas folhas. Assistimos nossas irmãs e primas serem assassinadas, nossa sentença é " sobreviver" num solo morto, já que há uma lei de proteção as castanheiras... (!) estamos morrendo " bronzeadinhas", chamuscadas, sufocadas pelo ar da fogueira de interesses e soterradas por terras envenenadas com CO2.

Senhor ministro, é urgente! Já não temos a Zona da Mata Nordestina, nem a Atlântica. E a Floresta Amazônica? Está ameaçada! Se não agirmos, vocês perderão o turismo, a saúde, a água, a produção agrícola e pecuária e nós...a vida.



Uma extrativista sonhadora.

domingo, 25 de janeiro de 2009

futuro

Um dia ainda me afogo em tanta imaginação...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Outra


O que fazer agora? Ele se apaixonou por outra. É, isso mesmo que você lê. Ele se apaixonou por outra. Ele analisou-me com os olhos cheios de lágrima, sorriu e deu-me um abraço apertado, dizendo: "Senti a sua falta". Respondi com um simples beijo: "Também senti saudade, mas foram apenas dois dias, meu bem". O beijo me tirou o fôlego, senti como se fosse o nosso primeiro, ele conseguiu, mesmo depois de três anos de cumplicidade. Respirei fundo, olhei-o penetrantemente, e disse que ele estava apaixonado por outra. A indignação foi instantânea, mas calei-o com mais um beijo e pedi que me escutasse. Sim, sim, por outra, pois não sou mais a mesma que ele se apaixonou no último verão. Sou alguns meses mais velha, talvez alguns quilos mais magra, estou lotada de novos projetos, com mais juízo e menos fôlego. Mesmo assim apaixonou-se. Acredita?

Os carinhos que recebi, hoje, serão meus, apenas meus, pela eternidade, mesmo que amanhã sejam injúrias.