quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Para ninguém

Querido,
que falta tens me feito, mas quase não tenho tido tempo de olhar nem no espelho, imagine para aqueles nossos encontros que faziam me perder no fundo dos teus olhos. Tempo é relativo e a gente encontra-o sempre que quer. É, eu sei. São só desculpas para permanecer afogada na minha razão, sem me entregar mais uma vez aquele meu lado obscuro e secreto, que se incentivado torna-se profundamente sentimentalista.
Tenho necessidades profundas de correr para longe de ti, não para que me sigas. É para respirar ares diferentes, pois teu mundo me vicia. Tens um gostinho tão doce. Talvez disso você não saiba, pois a única coisa que consigo te demonstrar é minha constante fuga, meu lado calculista e a minha frieza. Entenda, querido, teu charme me deixa um pouco afoita e tua inteligência me entorpece. Pareço uma garotinha mimada ao teu lado, ao menos é o que as pessoas devem pensar. Só que dentro de mim, sinto completamente o contrário, pareço uma mulher nascendo. Talvez seja só uma visão distorcida da realidade, aquela história de apenas vermos o que desejamos. E desejo muito estar contigo.
Queria me desculpar pelas falhas, pelas loucuras que cometi e pela constante ausência. Precisava de um tempo sozinha para quebrar antigos laços, não com alguém, mas com o meu passado. Não tens culpa, nem precisa dizer nada. Fui unicamente culpada por ter me fechado no meu mundo. Profundamente desejo que ainda estejas me esperando de alguma maneira, para que possa mostrar o meu lado bom. É eu tenho um lado bom, pode acreditar.
O mês está quase acabando. Belém já tem um cheirinho de dezembro, talvez você nem possa perceber. Mas, eu consigo bem sentir o cheiro úmido e esperançoso que dezembro tem. Quiçá ainda ouça um dia a tua voz grave e melodiosa, se lembrares nessa final de ano do meu dia.  Na  quinta-feira,30, ficarei ansiosa, mil vezes olhando para o celular, mas talvez tu não ligues, provavelmente nem é importante lembrar. Entretanto, ainda existirá a minha esperança.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

E lá se vai mais um ano


2010 não foi fácil. Não é por capricho meu, juro. Foi um ano de inúmeras inspirações, mas também cheio de marcas, mágoas e dores. Foram tantas despedidas sem adeus que deixaram meu mundo completamente de cabeça para baixo. Pessoas importantes que passaram a não me completar por escolhas minhas, por outras opções e também aquela gente cheia de graça que foi embora sem chance alguma de volta. Perdas incontáveis, que deixaram alguns nós na garganta, outros nas fitinhas de Nossa Senhora de Nazaré e tantos outros mil na minha cabeça. 
Não pense que meu ano foi um terror também. Não é bem assim. Conheci pessoas que mudaram minha visão de mundo, conquistei amizades a distância e amores virtuais. Apaixonei-me perdidamente, com direito a uma viagem enlouquecida, cheia de ternura e que me amadureceu como nenhuma outra. Comecei a escrever um romance, que digo não ter nada a ver comigo, no entanto, venho fazendo o papel da personagem principal minha vida inteira. Fiquei ainda mais cúmplice da minha pequena irmã e deixei que as antigas amigas firmassem o imortal laço de irmandade.
O ano quase já foi embora, ainda restam alguns "diazinhos" para ir vivendo. Novembro, que imaginei ser um mês completamente sem atitudes, foi meu divisor de águas. Fez minha vida andar, sem pensar em nada. Mas, confesso que essa possibilidade de quase dezembro provoca em mim um sentimento mágico. Meus balões enchem de gás hélio, vento e cores, me levando para novos sonhos.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Todas as segundas


Nem sempre os dias são alegres. Parece que algumas vezes o que estava lindo começa a desandar. Não que tenha feito alguma coisa de errado, simplesmente não acerta. Sabe como é? Você só acordou porque o sol invadiu o quarto e não deixou mais você dormir. Quando se der conta do horário, dará um pulo desesperado da cama, por saber que tinha uma reunião urgente com aquele cliente importante às 9h da manhã. Estáará atrasado, será inevitável. Tentará ligar para o escritório, para que alguém substitua você, mas o celular não funcionará. O carro não pegará e o ônibus demorará a passar. Que terça-feira de merda. Daí você lembrará, a semana começou com um feriado e a segunda tem que passar a praga a adiante e infernizar sua vida numa terça ensolarada. Ah, já ia esquecendo. Tava sol, né? Mas depois do meio dia cairá um toró que deixará um frio desesperador. Nem é que eu esteja prevendo que tudo isso vai acontecer, mas é que em alguns dias simplesmente a alegria não aparece, ela fica escondida atrás da colina, lá no final do arco-íris. Talvez você precise correr para buscá-la, antes que seja soprada em outra direção.
Você ficará aí nesse corre-corre, pedindo que logo o final de semana chegue, para ter aquela promessa de felicidade forçada. Garanto, só é a promessa, nas manhãs de todas as segundas voltaremos cada um para sua direção, em busca do que não existe...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Por aí num sábado à noite

O paladar pedia uma cerveja. Só aquele líquido gelado, amargo e que provocava reviravoltas no cérebro faria bem a Luiza. Uma cerveja com os amigos numa noite quente e num barzinho qualquer, falando besteiras e rindo da vida alheia. Afinal, falar da vida alheia só pode ser besteira. Ligou para todos os amigos, estava de folga e revê-los faria muito bem naquela noite de sábado. Todos estavam ocupados, provavelmente aconchegados nos braços das namoradas, amados e amantes. Sei lá. Só sei que nem atender ao telefone puderam.
Luiza colocou a roupa mais largada. Uma calça saruel, uma blusa coloridinha de uma banda de rock, um sapato fluor oxford e um relógio meio apagadinho. Era inegável, ela tinha estilo, mesmo sem vontade de se arrumar. Não passou maquiagem alguma e amarrou o longo cabelo num coque meio desfeito. Mas ainda sim estava bonita. Luiza tinha um rosto iluminado e uma expressão de saúde e felicidade, mesmo que fosse bem o contrário. Não tinha companhia, mas a vontade de beber continuava. Ela chegou sozinha no bar de sempre, sentou no balcão e ficou lá, pensando na vida, nos amigos, na profissão e num futuro que ela nem sabia se tinha. Pediu uma tequila, logo virou-a, sem sal e sem limão e pediu uma cerveja. O garçom tentou puxar conversa, entretanto contraditoriamente ela não queria bater papo furado. Deu alguma patada nele e virou o rosto. Queria ficar ali quieta, apreciando o gosto da Heineken que tinha na mão e viajando nas loucuras que estava arquitetando para o próximo ano. Uma viagem quem sabe. Um curso de pós-graduação em outro país. Luiza sabia que não tinha mais como ficar naquela cidade, trabalhando na mesma coisa e indo para o mesmo bar todo final de semana  ainda mais, agora, sozinha.
Ela não reclamava do namoro dos amigos. Sabia que estavam felizes, mas os sábados passariam a ser depressivos. A solução, diziam os conhecidos, era arrumar uma paixonite, qualquer casinho desses de fazer perder a cabeça, mas Luiza não queria, estava sem paciência para conquistar alguém ou fingir acreditar nas besteirinhas bonitinhas que o cara diria para agradá-la. Definitivamente para tudo isso é preciso saco. Ela nem se quer dava o trabalho de olhar com outros olhos um rapaz bonito, pois seria trabalhoso desfazer a confusão se ele se interessasse. Era tediosa a vida dela, mas irritante mesmo era vê-la ali naquele velho bar bebendo, aos pouquinhos, aquela cerveja sozinha. Ninguém se aproximava, tinha uma aura de proteção em volta dela. Mas nem podia reclamar, dava motivo para que a achassem insuportavelmente irritante.
Depois de seis ou oito cervejas, ela estava animada, ousada e engraçada. Subiu no balcão, tirou a roupa e festejou alguma coisa que parecia lhe deixar feliz. Festejou as cervejas, talvez. Não havia amigos para carregá-la, nem para impedir que tirasse a roupa. Os garçons nem sequer tentaram tirá-la, tinham medo da garota-bonitinha-estranhamente-maluca. Ela divertiu os clientes e gargalhou um pouco. Desceu do seu palco, pegou o celular e foi parar na casa de um desconhecido, para fofocar é que não foi. Luiza tinha surtado e não tinha ninguém para perceber seus primeiros devaneios.