quinta-feira, 29 de abril de 2010

Tantos saltos


Ontem, alguém tão importante me disse que algumas pessoas são escolhidas para viverem grandes histórias, daquelas de cinema, nada de curta metragem, possivelmente enredo de novela, daqueles bem brasileiros, cheias de conflitos, no entanto nunca um contos de fadas, com finais felizes e programados. Fiquei pensando: Quem escolhe essas pessoas? Qual o critério de eliminação? E sabe a minha conclusão? Uns criam tantas máscaras que perdem a identidade e acabam se fechando no seu mundo encantado, sem nunca se permitir amar. Mas, se pessoas com essas características encontram Hades no caminho a possibilidade de aprender a usar o cérebro para sensações emotivas será maior, basta despir-se das máscaras uma a uma.

Mesmo com tantos encontros virtuais, a atriz que mora em mim não para de interpretar. Tantas vezes certinha. Outras ousada. Em muitas, bruxa. Mas, sempre bailarina.

E foi ela quem acordou, hoje, dançando descalça. A vontade incontrolável de calçar as sapatilhas, diariamente, era trocada pelas letras, quase uma troca justa: arte por arte. Pelo menos alí, no papel, ela poderia ser quantas fossem preciso para se sentir completa e ninguém julgaria. Como foi no palco. Ela amarrou os laços, entretanto não houve tempo de passar breu. Saiu escorregando pela casa e nem era inverno, para mudar de modalidade. Não conseguia mais alcançar o céu com os saltos divinos, que tantas vezes foram o refúgio da realidade. Flutuação no paraíso, sem peixes, sem água calcaria e com a mesma sensação... fuga.

Abandonara os palcos quando começou a se comportar como mulher. As escolhas da infância, agora, não fariam sentido. Tantos enganos, a garotinha que se julgava madura o suficiente para abandonar os sonhos e seguir novos foi fatalmente enganada por uma de suas personalidades: a bruxa. Não precisa ter medo de se aproximar, ela não pode te tocar. Há apenas uma mocinha: a bailarina. Ou será o contrário? Só saberá quem assistir os ensaios até o grand finale.

Entrar no meu mundo pode realmente ser assustador...

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Hoje, desejei que os lindos balões coloridos me carregassem para longe dos versos. Eu cairia na correnteza da Prosa, sem me escandalizar com os perigos e as faltas de rimas. Apenas cairia, para desaguar em Pasárgada, onde tudo é possível. Até os meus sentimentos mais fantasiosos e saudosos...


Nos meus sonhos, um dia o vento será cúmplice dos vibrantes e coloridos balões.

Sala de aula


Na sala de aula, era a estranha. Parecia ter descido de pára-quedas de um planeta bizarro, inventado por qualquer lunático, naquele exato momento. Todos discutiam. Falavam de suas experiências na licenciatura, da ingratidão dos pequenos que eles insistiam em chamar de aborrecentes. Não tinha o que falar. Nunca havia respirado decepção. Talvez a frustração de tentar ensinar a língua materna para quem já a utiliza seja inevitável. Não há regras para a interlocução. Não precisa de coesão, coerência e tantas outras coisas que a gramática normativa obriga. Basta não haver ruído na comunicação. e tudo será delicioso. Provavelmente faltou criatividade nas mentes de quem aprendia, principalmente na de quem ensinava. 

Mil vezes li os textos do Bagno sobre preconceito linguístico, concordei com "a língua é o mar e a gramática um igapó". Mas ainda assim, sou viciada em vírgulas, em predicados,  em regência, em sujeitos, principalmente os determinados. E não adianta fazer cara feia. Eu sei, eu sei: sou aluna de letras e meu tcc fala sobre isso. Tá! Desculpem, sou a contradição, sou o oposto. E não adianta fazer análises do meu discurso. Não há nada implícito. Tudo o que deveria disse aqui. Sem precisar de metáforas. Incrivelmente sem precisar de máscaras. E se tudo parece verdade, talvez seja preciso reescrever. Ou reler!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Não há...

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Eu desci do avião meio sem pressa. Teria toda a eternidade para ver quem fosse. O fone ainda no ouvido dividia a atenção entre o zumbido da pressão, a voz da mãe e a música que tantas vezes ele tocou para mim naqueles dias fora de casa. Tapei para os três e só conseguia escutar a minha mente reclamando de tudo que era tão bonito na antiga cidade amada: a chuva, o vento quente, os tantos doces com farinha, os infinitos éguas que não paravam de rolar de inúmeras bocas desconhecidas...
Eu queria apenas me esconder, correr de volta para as asas de quem me trouxe à cidade das Mangueiras e visitar novamente a Morena, aquela que tão bem me acolheu e permitiu que pudesse novamente abraçar seu filho adotivo. Foi quase minha mãe por 10 dias, daquelas especiais, que apresentam o mundo sem cobrar um tostão. E a "filha" tão rebelde insistia em reclamar, em falar da original, desdenhando do amor "falso", "comprado". E agora eu sentia saudade... saudade... saudade. Daquelas que já nascem grandes, sem nem precisar crescer. Explodem sem pedir nenhuma licença.
Os pingos de água, que antes caiam no meu rosto, provocando sensação de liberdade, agora arrancavam lágrimas. Não há mais motivos para descer de canoa. Não há graça em tomar tacacá no final da tarde, mesmo no calor do equador. Não tem sentido correr entre as mangueiras e respirar aquele vento de chuva. Não há espetáculos no Theatro da Paz que me arranquem sorrisos... Não há mais cantos. Não há...
Se as minhas sinapses flutuam procurando alguém no rio Prosa...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Avuada


As ruas estavam alagadas. Ela andava de cabeça baixa pela Avenida Nazaré, brincando de contar passos. Números pares entre as mangueiras. Ainda caiam alguns pingos, mas nenhum colorido de qualquer sombrinha a alegrava mais do que as gotas frias e duras, rasgando seu rosto. Ela não tinha motivos para lembrar-se dele: nenhuma daquelas mangueiras foi cúmplice do amor, não houve nenhum encontro depois da chuva das três, nem ao menos uma cena romântica pela linda Belém. Ainda assim, ela sentiu saudades do que apresentaria.

Ela sentiu falta da coragem de viver sem máscaras. Pensou em quantas vezes mostrou ao mundo sua dança, em palcos, sem aplausos e com luzes ofuscantes. No entanto, o soluço só apareceu na lembrança dos dias na coxia, quando ela despia a fantasia, visivelmente nervosa, dançava sem medo.

Eu acompanhei seus passos. Logo atrás, harmonicamente. Para que ela não percebesse, fiquei escondida nas sombras das rainhas da capital paraense. Logo parei. Cansei de vê-la de cabeça baixa, caminhando em linha reta, em sentido oposto à bússola. Contrária às convenções, como de costume. Num lindo gesto de loucura, ela levantou a cabeça. Parou. Olhou para trás, como se esperasse alguém… Sorriu. Deu a mão e continuou, agora, desfilando. Entretanto, ainda sozinha…

Provavelmente em outro espaço, alguém o viu correndo desvairado, o viu sorrir e dar a mão…

Quiçá à Liberdade!


Ps: Sinto falta de postar aqui, preciso me separar devagar desse espaço e visitá-lo apenas como lembrança. Mas daqui há algum tempo, só postarei no novo: www.coxiadaimaginacao.com.br