quarta-feira, 7 de abril de 2010

Avuada


As ruas estavam alagadas. Ela andava de cabeça baixa pela Avenida Nazaré, brincando de contar passos. Números pares entre as mangueiras. Ainda caiam alguns pingos, mas nenhum colorido de qualquer sombrinha a alegrava mais do que as gotas frias e duras, rasgando seu rosto. Ela não tinha motivos para lembrar-se dele: nenhuma daquelas mangueiras foi cúmplice do amor, não houve nenhum encontro depois da chuva das três, nem ao menos uma cena romântica pela linda Belém. Ainda assim, ela sentiu saudades do que apresentaria.

Ela sentiu falta da coragem de viver sem máscaras. Pensou em quantas vezes mostrou ao mundo sua dança, em palcos, sem aplausos e com luzes ofuscantes. No entanto, o soluço só apareceu na lembrança dos dias na coxia, quando ela despia a fantasia, visivelmente nervosa, dançava sem medo.

Eu acompanhei seus passos. Logo atrás, harmonicamente. Para que ela não percebesse, fiquei escondida nas sombras das rainhas da capital paraense. Logo parei. Cansei de vê-la de cabeça baixa, caminhando em linha reta, em sentido oposto à bússola. Contrária às convenções, como de costume. Num lindo gesto de loucura, ela levantou a cabeça. Parou. Olhou para trás, como se esperasse alguém… Sorriu. Deu a mão e continuou, agora, desfilando. Entretanto, ainda sozinha…

Provavelmente em outro espaço, alguém o viu correndo desvairado, o viu sorrir e dar a mão…

Quiçá à Liberdade!


Ps: Sinto falta de postar aqui, preciso me separar devagar desse espaço e visitá-lo apenas como lembrança. Mas daqui há algum tempo, só postarei no novo: www.coxiadaimaginacao.com.br

Nenhum comentário: