domingo, 29 de abril de 2012

Sem querer

Tenho motivos para esquecer você. Quero minha paz novamente. Quero olhar para o calendário e não lembrar que no mesmo dia, um ano atrás, estávamos fazendo alguma coisa. Juntos. O primeiro samba, os compassos marcados pelo meu pânico de deixar você me conduzir. A minha entrega, depois da sua insistência. O primeiro beijo. Que precisou de teimosia para depois virem outros. E foram diários, semanais e obrigatórios. Quero trocar os Móveis por alguma coisa nova, só para não sentir o cheiro dos "nós". 

Quero entrar no chuveiro, molhar os cabelos e não lembrar das suas mãos passando pelo meu corpo. Depois me enrolar na toalha e nem lembrar dos seus olhos me convidando para deitar. Quero me jogar na cama e dormir, sem precisar sonhar. Ou ter pesadelos contigo, dizendo que me ama. 

Quero um emprego novo. Uma casa nova. Outra cidade. Quero olhar para os lugares e não ver nada seu neles. Quero não ver seus lindos olhos na fila do metrô. E não escutar seu nome em cada nova música. Quero não sentir o seu gosto em casa beijo novo. Quero não tocar em ti a cada encontro com amigos antigos. Quero não lembrar do gosto do seu corpo sobre o meu. E das nossas brincadeiras a cada encontro. 

Quero não te visitar nas redes sociais só para saber se ainda continuas lá. Quero que troques de celular. Que percas meu número. E que não venha com velhas perguntas para saber onde estou. Quero tomar um copo d'água e sentir o gosto insípido. E que a chuva tenha o mesmo gosto. As lágrimas não. Quero pensar em você como um desconhecido. 

E também não quero. 

Não quero novas cores para os meus lábios. Não quero ler, pensar ou pisar em Paris. Não quero trocar os dias de festa por horas de sono, nem me trancar no quarto e passar horas olhando para a porta, esperando que ela se abra. Não quero escândalos depois de doses de tequila. Não quero passar em frente ao seu prédio, duas, três, quatro vezes no dia só para saber se está em casa. Não quero ligar de um número desconhecido para escutar sua voz dizer "alô", nem inventar promoções das operadoras só para escutar um sim. E nem jogar fora os LP's dos Beatles, a vitrola e me atirar do décimo andar. Sem me arrepender. Não quero escolher o nosso destino

Quero te colocar na lixeira, sem coração apertado. Só que ainda resta a esperança de um dia restaurar. E criar novas pastas, aplicativos e fazer download para tomar conta de todo o espaço da minha memória.