segunda-feira, 24 de maio de 2010

Le pont


Ganó una hora. Perdió otra. Ganó la vida con una visita. Perdió la gracia en la ausencia. Tantas contradicciones. Ella admitió, sabía del riesgo. Sólo que ahora prefería vivir entre saltos en paracaídas, ya que no había más miedo a las alturas. Podía cerrar los ojos, cuando se trataba de emoción. Tantos cambios en tan pocos días. Y luego vino la despedida. Pero, como en la música: "Le mémoire et est presque real."
Días de Silencio. No hay sufrimiento, ni palabras, ni respiraciones. No hay vuelo.
Estaba siendo castigada por volver a casa.

Para escuchar: Le pont (Tiê)

domingo, 23 de maio de 2010

Silêncio. A dor que sentia provocava total silêncio. Todas as perguntas pareceriam retóricas e se não fossem, ainda sim não a fariam falar. Até voltar a escrever agora seria difícil. Conseguiram tirar o que mais amava: a liberdade. Aquela tão sonhada por toda a multidão, tema das 7 artes. Ninguém alcançaria. Ela então, menos ainda. Possivelmente num futuro próximo viveria de auto-censura, depois de viver numa profunda ditadura, mais longa que a brasileira. 22 anos havia passado. E quantos mais seriam?
Os sentimentos novamente fugiram. Prossivelmente, ela nunca mais sentira nem compaixão. A raiva já não era possível. A única vontade era de tomar uma daquelas essências que só são possíveis no País das Maravilhas. Sumiria, mesmo que fosse só para os seres tão normais e moralistas. Ela procurou no mundo real, nem no mercado do Ver-o-Peso encontraria mágica tão avançada. Fabricou o seu refúgio. Quase um mundo paralelo. Mas a viagem agora custava caro, os poucos neurônios que restavam, recusavam-se a realizar fugas tão longas, intensas e impossíveis...
O mundo estava desmoronando e nem ela poderia mais se salvar, nem nas entrelinhas...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Tá tudo errado


Os sapatos estão trocados. Não me molho nem saindo na chuva. O meu peso aumentou. E estou aparentemente mais magra. Os meus saltos quebraram e eu me recuso a usar rasteiras. As minhas unhas estão pintadas de vermelho, mas ninguém percebe. E só conheço um daltônico, que por sinal sabe  que as unhas estão vermelhas. As ruas estão vazias e o engarrafamento é a desculpa para chegar atrasada na aula. mesmo que vá andando. Os carros que passam por mim só tocam brega, no entanto reivindicam por músicas melhores e um pouco mais de cultura. O tucupí azedou, o açaí derramou e a farinha tá velha. Eu estou profundamente irritada, sem encontrar a saída, mesmo que viva me despedindo de Belém...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Volta


Não posso respirar forte. Senão alguém vai me condenar por utilizar mal meu aparelho respiratório, que dizem que foi deus quem me deu. E para eu não virar, retwittar e completar com um "vai se catar..." prefiro comprar uma bolha, que eu possa escolher o que fazer: não respirar, respirar forte, roncar e até gritar. E ninguém vai reclamar, porque não poderão escutar.  Cansei de tentar ser o que todo mundo pedia que eu fosse: um docinho de garota, boazinha, que tenta calar a sua intuição e comprimenta mesmo aqueles que ela não gosta. A partir de hoje voltarei a ser a chata insuportável e nem adianta reclamarem. Não me importo mais...

domingo, 16 de maio de 2010

Sem


Chegou de viagem, logo voltou ao trabalho, à faculdade e aos sonhos que deixara estacionados por algum tempo. Voltou com tanta vitalidade para continuar o ano, que conquistou novos amigos. Tinha novos projetos. Novas paixões e falava sem aflição numa nova partida, mas agora um pouco mais duradoura, ela moraria longe da cidade que amava para estudar e se aproximar de quem tanto gostava.
Antes de entrar no carro, tentou ligar para algumas pessoas, precisava escutar algumas vozes. Ninguém atendeu. Talvez por intuição, ela mandou mensagens. Ela voltava para casa, depois de um dia louco. Estava cansada o suficiente para arriscar sair do trabalho mesmo com tanta chuva. Ela nunca corria, sempre foi atenta, ainda mais com aquele toró.
Ligou o rádio. Noticiário. Mudou para a estação, que tocava uma música desconhecida, mas que a fez chora compulsivamente. Pensou em parar o carro, nem sabia mais para onde estava dirigindo, parecia ter passado da entrada de casa. Já estava quase em outro estado. Não parou. Não perguntou. Não usou GPS. Continuou seguindo, talvez encontrasse uma casa para se abrigar, no caminho.
Escureceu, o carro apitou confessando a exaustão e a quase falta de gasolina. Nenhum posto até ali. Provavelmente mais a frente. A chuva não parava e a visão estava quase completamente turva, pelas gotas caindo no parabrisas, o breu, o cansaço e as lágrimas. Ela freou bruscamente, enquanto tocava Autoramas, mas...
Ninguém mais poderia salvá-la. Sem morfina, sem glicose, sem pulso. Ela estava morta. E acontecera tão de repente.
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- Desculpa querido, não tive como avisar antes, teu celular estava desligado. E com tanta coisa acontecendo não pensei em entrar na internet. Eu sei que vai ser difícil conseguires um voo para Belém agora, na verdade, nem sei se vale a pena. Talvez, seja melhor ficares com aquela velha imagem dela sorrindo, do que vê-la deitada entre flores. Ela odiava flores fora de vasos, lembras? Provavelmente reclamaria desse cheiro enjoativo com mil espirros. Não consigo vê-la quieta, deitada sem nenhum edredom, sem nenhuma perna dobrada. Quieta e em silêncio. Acreditas que ela está em silêncio? Nunca mais vou poder ouvi-la reclamar,  o que ela fazia com tanta propriedade, sempre achando estar coberta de razão e nem sempre estava. Mas quem ousava avisá-la? Eu preferia me calar e escutá-la cantar desafinada, rir desesperada; quase sem fôlego, reclamar das minhas besteiras e dos meus medos. E agora, querido, como faremos para tê-la aqui novamente? Nem te contei, o carro dela foi encontrado no sul do Pará, provavelmente a saudade a fez voar. Ela era tão orgulhosa, odiava admitir que sentia saudades tuas. Talvez nem ela soubesse que estava quase insuportável viver tão longe e por isso o carro, quase como no conto de Saramago, a guiou para casa, mesmo que fosse tão longe de onde ela morava. Casa é onde a gente se sente bem, não? E há tanto tempo ela queria sair daqui. Mas tinham coisas que ela precisava resolver, antes de partir. E, agora, ficaram pela metade. Estou perdida. Não sei o que fazer com as coisas dela: os livros, as roupas, as cartas, o notebook, o celular..
Tudo tem o cheiro dela. Não sei se vou aguentar.
- Calma. Não tira nada do lugar. Vou aí me despedir. Preciso confessar à ela tantas coisas ainda, mesmo que não possa mais ouvi-las. Pego o voo das 7h.

sexta-feira, 14 de maio de 2010


Meu passatempo favorito? Reclamar! Não importa do que será. 
Mesmo andando sozinha na rua eu reclamo, gesticulando e falando alto, coisa de maluca mesmo. Só assim os problemas passam. Quer dizer, isso costumava acontecer. Só que agora um vendaval bagunçou tudo. Nem há mais ruas para andar...

sábado, 8 de maio de 2010

Surto em palavras


Uma tatuagem marcaria a nova mudança. Poderia ser ousada e escrever no seu pescoço “língua” e ser ambígua quantas vezes quisesse. Atraente, mas só poderia andar de cabelos soltos e prendê-los para mostrar apenas a quem interessasse. E gostava tanto de seu pescoço desnudo e comprido de bailarina, mesmo que não se chamasse Beatriz. Por isso, desistiu.
E palavra no seu verso? Sugestivo, mas não autêntico. Era cópia de uma escritora mais famosa. Tantas opções e nenhuma suficiente para deixá-la convencida de que era o certo para assinalar em seu corpo, tão esguio e tão jovem. E prosa? Exatamente! Era ela. Palavra falada e escrita, não em poesia, mas em contos, anedotas, histórias reais, fictícias e os amores mais fortes: jornalismo e literatura. Era isso. Contadas as letras. Um problema ímpar. E a loucura por números, apenas pares, não a deixava, mesmo que fosse a resposta para a perfeição. Achou que a saída era curar-se do fanatismo por pares. Encontrou a cura, bastava rouba-lhe um s e tudo se resolvia. Pare. Não resolveu. Apenas confirmou a paixão por duplicidade e companheirismo, que exalavam da palavra par. Um só não era nada. Dois mesmo dobrados poderiam produzir outros. 
A mente trabalhou rápida e visualizou o tatuador riscando nas suas costas a singela palavra. Todos se apaixonaram pelo semioticismo que PROSA provocava. Ela não mais. Não conseguia mais entender o significado, nem podia montar anagramas. Ela correu para o banheiro, alcançou uma esponja vermelha, que misturada a sua pele branca montou a nova tatuagem, agora sem P. Sem letras a mais. Mais ela não estava satisfeita. Mesmo que não quisesse lembrava das mulheres, aquelas românticas assumidas e neuradas. Ela não era. E sim ela gostava de rosas, mas preferia prosas. Por isso continuou esfregando. Nada mais apagaria. Não dava para se livrar de tintas em papéis. Mesmo que apagasse, o verso denunciaria. Melhor era não arriscar se acostumar com a ideia de ímpar. 
Pensaria mais um pouco. Tantas palavras em português a fascinava e nenhuma cabia em seu dorso. Umas pareceriam fúteis, outras dariam rasteiras, mas só quatro letras a fariam voar: ASAS.


sexta-feira, 7 de maio de 2010

Além da genética...



Ele não estava bem. Trancava-se no quarto para que ela não visse quanta dor sentia. Deveria ser intensa, pois os olhos tinham um tanto de tristeza misturado a orgulho ferido. Para ele deveria ser difícil falar algumas coisas. Para ela, também, era. Mesmo que desde pequena tenha aprendido a dizer palavras carinhosas  e tenha sido acostumada a selar cada encontro com um beijo. Ainda assim, ela era o oposto. Era distraída com sentimentos. Mas aquele ela entendia. Sentira tantas vezes, por motivos diferentes.
Num ataque de fúria, ele saiu batendo a porta e atirando palavras malcriadas. Ela fingiu não ouvir, pelo menos assim logo esqueceria. Fez o contrário do que ele desejaria. Lembrou-se de quando era criança, que ele tantas vezes nas noites frias contou histórias, anedotas e fez confissões, sempre acariciando as frias orelhas dela com as mãos quentes e macias. Eram pequenas as demonstrações de amor. Para ela, foram marcantes, podia lembrar-se de cada uma com detalhes.
Não precisava de abraços longos, ele não permitia e ela não gostava.  Brigavam tanto, se olhavam torto em opiniões contrárias, um pouquinho de teimosia genética. Apesar de tudo, amavam-se. Ela chorou muitas vezes por achar que ele não se importava com os pensamentos tão revolucionários que ela insistia em ter, mas vieram mais lágrimas quando ele em poucas palavras demonstrou que prestava atenção em tudo que ela falava. E mesmo que não concordasse, admirava tanta coragem. 
A vontade era de correr atrás dele, depois do baque na porta, pedir desculpas e ouvir tantas palavras ruins que ele falaria antes de perdoá-la. Era sempre assim: ele desabafava, ela calava e vinha o rápido abraço. Em mais alguns dias estariam novamente discordando e provocando a inteligência um do outro. Ela o amava como nunca conseguiu dizer e queria um dia ser como ele.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Parece


SILÊNCIO, era tudo que ela pedia, quando o que precisava era escutar...

Ele.
Ela.
Eles.
E a multidão não se calava.

"Estranheza"


Ser diferente cansa, quer dizer, explicar o motivo da minha "estranheza" desmotiva. Eu perco a vontade de desvendar alguém que quase me obriga a explicar quem sou. Se sentiu vontade de me descobrir, então faça sozinho, não tome o caminho mais fácil, vindo me perguntar. Eu não respondo.
E nem é assim tão por má vontade, é que assim que começar a me explicar vou ser o oposto. Não que eu goste. É, pensando bem, eu gosto muito. Faz parte de mim ser contrária.
Enquanto todas as meninas perdiam tempo brincando de boneca, pensei em brincar de carrinho, mas seria o contra normal e não me satisfaz ser normal. Fui atrás dos personagens, aqueles da literatura. E me enfiei num mundo que é completamente paralelo. E até hoje, estou aqui mandando correspondências à realidade.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Miroir


Querido, preciso urgentemente conversar contigo. As cartas devem ter extraviado, o garoto de recados era mudo e o público esqueceu meu depoimento, assim que terminei. Não houve resposta tua à minha procura. Não precisa se justificar, apenas escuta o que eu tenho para dizer. E antes que penses que será um monólogo, vou logo avisando, aceito intervenções, mas só as monossilábicas, que não me tirem do foco. Não atira em mim esse olhar assustado, como se eu não soubesse que sou bavarde, esqueço do mundo nas minhas opiniões. Eu sei, tantas vezes reclamaste desse meu defeito quase "imutável". Mas tenta prestar atenção, dessa vez é importante. Não, não é isso. Claro que das outras vezes também foi importante. É que agora me restam poucos minutos senão acaba a coragem. Calma! Deixa-me terminar, aí tu dizes o que achas. Descruza os braços, meu bem, a vovó sempre diz que isso impede nossa felicidade. Vamos, descruza!? Já estás entediado de me assistir tentar falar, não é? Eu sei. É que estou nervosa. Minhas mãos estão geladas. Sentiu?!! Palavras consistentes não conseguem sair daqui. Quer dizer: CON-SIS-TEN-TES. Tá, essa sai. Mas enunciado com significado que é bom nada, nem mesmo metafórico. Para! Não precisa ficar nesse silêncio absurdo. Vai! Fala alguma coisa? Pergunta. Briga. Qualquer coisa. Mas fala! É eu sei. Era eu quem queria falar, mas acho que perdi a coragem. Não precisa revirar os olhos, eu vou dizer. Tá! Vamos lá...
Sabe o que é querido...

A campainha tocou. O espelho que antes refletia ele, agora mostrava a maquiagem borrada e algumas lágrimas.



segunda-feira, 3 de maio de 2010

Ela


Queria ser diferente. Na infância, um amiguinho imaginário, de alguma história que ela leu, confortou-a, quando, por tanta distinção dos outros pequenos, ela se sentia triste:
- Não precisa chorar, criança. As garotinhas especiais não precisam brincar de boneca para serem felizes.
Limpando as lágrimas, interessada no que ele dizia, ela perguntou o porque. Certamente, ela não saberia entender, ainda. Então ele respondeu:
- O mundo está cheio de princesas boazinhas e bruxas más. A senhorita tem a mudança em suas mãos. Use-a. E despejou na pequena um pote de imaginação.

Com os pés ela encantava o mundo, com as mãos ela vivia.

domingo, 2 de maio de 2010

N

Fecho os olhos e consigo te ver sentado na minha frente, com o velho violão, franzindo a testa e cantando, com um timbre que adoro, aquela música antiga. Talvez, naquela hora, não tenha conseguido demonstrar quanta felicidade eu senti em te assistir tocar, novamente. Dedicado a mim. Na verdade, sempre é assim: não consigo demonstrar meus sentimentos, sinto arrependimento depois, mas a única coisa que posso fazer é escrever. Ainda preciso aprender a ter sentimento. Não é fácil decifrar todo esse borbulhar de coisas novas, que não estou acostumada a entender. Preciso desenvolver o poder de demonstrar que meu cérebro pensa em ti com carinho. E com um carinho absurdo! 
Mesmo com tantos dias já longe, é quase possível ainda sentir a tua respiração, que fiz questão de tantas vezes guardar. Só que para não gastar tanta recordação, solto do potinho aos poucos, com medo que fujas de mim...
Toda vez que me deito, deixo teu espaço guardado no lado direito da cama. Continuo dormindo, como se fosse de costas para ti, procurando independência de alguma forma, mas minhas mãos à noite sempre procuram pelas tuas. E não encontrá-las, traz uma saudade apertada, que provoca uma vontade de mudar todas as certezas no meu dia. Um dia elas mudarão!
E acredita que não sinto mais medo?  Sem contar até 10. Sem prender a respiração: Adoro-te, querido.

sábado, 1 de maio de 2010

1 minuto para terminar o dia e a ideia de escrever um livro, ainda hoje, não sai da minha cabeça. Só falta a inspiração. O tempo. O papel em branco eu já tenho...