sábado, 8 de maio de 2010

Surto em palavras


Uma tatuagem marcaria a nova mudança. Poderia ser ousada e escrever no seu pescoço “língua” e ser ambígua quantas vezes quisesse. Atraente, mas só poderia andar de cabelos soltos e prendê-los para mostrar apenas a quem interessasse. E gostava tanto de seu pescoço desnudo e comprido de bailarina, mesmo que não se chamasse Beatriz. Por isso, desistiu.
E palavra no seu verso? Sugestivo, mas não autêntico. Era cópia de uma escritora mais famosa. Tantas opções e nenhuma suficiente para deixá-la convencida de que era o certo para assinalar em seu corpo, tão esguio e tão jovem. E prosa? Exatamente! Era ela. Palavra falada e escrita, não em poesia, mas em contos, anedotas, histórias reais, fictícias e os amores mais fortes: jornalismo e literatura. Era isso. Contadas as letras. Um problema ímpar. E a loucura por números, apenas pares, não a deixava, mesmo que fosse a resposta para a perfeição. Achou que a saída era curar-se do fanatismo por pares. Encontrou a cura, bastava rouba-lhe um s e tudo se resolvia. Pare. Não resolveu. Apenas confirmou a paixão por duplicidade e companheirismo, que exalavam da palavra par. Um só não era nada. Dois mesmo dobrados poderiam produzir outros. 
A mente trabalhou rápida e visualizou o tatuador riscando nas suas costas a singela palavra. Todos se apaixonaram pelo semioticismo que PROSA provocava. Ela não mais. Não conseguia mais entender o significado, nem podia montar anagramas. Ela correu para o banheiro, alcançou uma esponja vermelha, que misturada a sua pele branca montou a nova tatuagem, agora sem P. Sem letras a mais. Mais ela não estava satisfeita. Mesmo que não quisesse lembrava das mulheres, aquelas românticas assumidas e neuradas. Ela não era. E sim ela gostava de rosas, mas preferia prosas. Por isso continuou esfregando. Nada mais apagaria. Não dava para se livrar de tintas em papéis. Mesmo que apagasse, o verso denunciaria. Melhor era não arriscar se acostumar com a ideia de ímpar. 
Pensaria mais um pouco. Tantas palavras em português a fascinava e nenhuma cabia em seu dorso. Umas pareceriam fúteis, outras dariam rasteiras, mas só quatro letras a fariam voar: ASAS.


3 comentários:

Raísa disse...

Mas só quarto letras a fariam voar: Asas. Perfeito esse final. Amei.

maria rezende disse...

que lindo, jussia! adorei o eco! e sim: asa asa asa! beijo, maria

Tamires Lima disse...

Asas, asas, asas!

Minha mais perfeita escritora paraense, e o melhor, minha amiga!

Teus textos estão cada vez mais perfeitos, mais você. Me ensina a ser assim?

Te amo!