domingo, 31 de outubro de 2010

Lá vem novembro chegando e invadindo outubro. Novembro e todas as suas promessas de ser um mês apático, rápido e pré-festas-de-dezembro. Se ao menos o meu fosse doce, mesmo com final trágico...eu seria a lembrança de alguém. Melhor que ter 12 meses multiplicado por tantos mil anos e não servir nem como memória. Parece dramático e melancólico, mas é a realidade: as pessoas são egoístas ao ponto de sentirem saudade só quando importa. Logo saudade, a palavra mais bonita do português. 
Ah! Saudade...
Ela que me mata todos os dias um pouquinho e me ausenta constantemente de mim. Ela que me devora e matrada, apagando minha inspiração.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Meu tempo



Virei a ampulheta que estava sobre a mesa pelo menos umas quatro vezes. Olhei o celular mais umas trinta . Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação nova. Ele se esqueceu do encontro, era só o que passava na minha cabeça. Não suportava esperar por ninguém, ainda mais naquela ansiedade de revê-lo depois da viagem. Antes de ele ir a Paris, saímos algumas vezes, nada sério, mas totalmente intenso. Achei que não ligaria na volta, no entanto ele até falou que sentiu saudades e precisava me ver. Nossa! Mas as parisienses são tão mais bonitas e cheias de charme. Não relutei. Também havia sentido falta dele. Não aquela saudade que provoca uma dor profunda, nem incômodo, mas a ausência dele deixou um sentimento diferente e que nem neologismo pode explicar. Não dessa vez.
Nenhum sinal. O calor e a umidade estavam altos, o que provocou uma vontade incontida de tirar o vestido, o salto e até a maquiagem. Logo perderia a paciência e me jogaria na cama. Liguei o ventilador, coloquei  Millencolin bem alto e me despi. Joguei-me loucamente na cama, quase cai. Ao menos com o som não dormiria, pelo contrário, me fez ter vontade de sair correndo pela rua. A minha mãe bateu no quarto me convidando para jantar. Recusei. Não precisava comer em casa, tínhamos reserva num dos restaurantes mais charmosos da cidade. Foi o que ele me disse quando me ligou um dia antes. 
O telefone tocou. Eu já nem sabia por onde tinha largado, sai procurando desesperada. Era ele. Atendi meio aborrecida, ele se fez de desentendido e disse que já estava passando pela minha casa. Coloquei o vestido, calcei a sandália, peguei a bolsa e o relógio. Desci a escada de casa gargalhando.
Com a minha mania de não viver o agora, estava adiantada pelo menos meia hora. E depois não quero que me chamem de neurada. Vai entender!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Ela queria...

Ligou o som no último volume. Precisava escutar qualquer música que a tirasse de orbita. Pela primeira vez desejava perder a cabeça. Queria cometer qualquer loucura para sair da rotina. Mas era impossível, ela tinha um grande segredo: tinha medo da liberdade. Isso mesmo. Vivia em busca da sua, mas inventava histórias para mudar de caminho quando as asas estavam mais leves. Era puro medo. Um medo estranho, diferente talvez. Não paralisava, não impedia, mas também não dava gás para mudança. 
Queria sair de casa. Tomou banho. Colocou um vestidinho cor-de-rosa. Maquiou-se. Arrumou a bolsa e apressou-se. Nem sabia para onde ir, no entanto não era ali que queria ficar. Queria borrar a maquiagem sem que ninguém a visse, nem ao menos escutasse qualquer soluço. Queria voar, mas tinha medo de cair. Queria dançar, mas o medo de tropeçar a impedia. Queria grita, mas estava sem voz. Queria ficar bêbada, sem colocar qualquer gota de álcool na boca. Queria sorrir, mas sentia uma dor flagelante quando movia os músculos do rosto. Queria se despedir, mas não sabia de quem. Queria voltar, mas não sabia para onde. Queria lamentar as perdas. Queria dizer coisas importantes para pessoas do passado, mas não sabia onde encontrá-las. Queria pegar um avião com destino à felicidade, mas não tinha dinheiro para comprar o bilhete. Finalmente, ela descobriu. Queria morre para que sentissem sua falta, mas queria estar viva para assistir.

Vingança!

Ela nunca gostou de despedidas. Sempre tão doloridas e cheias de emoção. Ela preferia partir sem dizer adeus, era bem mais fácil não ver o seu reflexo amargo nos olhos brilhando de lágrimas de quem sentiria saudades. Foram tantas às vezes que ela fugiu, correu, sumiu. Chegou a ser cruel em tantos momentos, mas ela não parecia se importar. Não havia sentimento, não nela. No entanto, ela foi pega de surpresa: agora, as pessoas partiam sem ao menos pronunciar qualquer som bom. Seria vingança? 
Desejara tanto ser autossuficiente, foram os pedidos de todas as vezes que completou novos anos. Aqueles pedidos feitos na calada da noite, sozinha, de olhos fechados e com uma força de vontade incrível. Talvez, fosse à hora de finalmente não precisar de ninguém. Que contradição. Pois era exatamente agora que ela sentia falta de mãos, abraços e sentimentos. Uma despedida, exatamente nessa hora, seria suficiente para deixá-la numa tristeza profundamente corajosa. Era melhor que o vazio seco, áspero e quente que a deixava em pânico pela ausência de uma única prosa. Verso. Palavra. Silêncio.
Ah! Silêncio. Talvez ele explicasse, mas essa sensação de que a qualquer momento nascerá um som, Lá, com sustenido. Em qualquer timbre, em qualquer frequência. Ela estava destinada a provar do veneno que desenvolvera. Agora, talvez, não haja mais voz, nem palavra, nem silêncio. Quem sabe ela também não exista. Não mais.