sexta-feira, 29 de julho de 2011

Mon cher 2

Queria que você estivesse aqui. É verão, os dias estão longos e Buenos Aires parece ainda mais encantadora agora. Nos primeiros dias fiquei empolgada com tanta gente falando espanhol, com um sotaque estranho, admito, mas era espanhol e sabe, querido, consigo entendê-los. Eles que não me entendem. Não fazem ideia do motivo que me fez sair correndo do Brasil, quando tinha você aí do meu lado. Não sei bem se compreendo, só sei que me fazes muita falta agora. Queria que você pudesse pedir alguns dias de folga no trabalho e viesse me ver andando sozinha por essa cidade tão bonita. Seriam belas as fotografias.
Talvez esteja me enganando, achando que foi a minha viagem que nos separou.  Quando você me conheceu sabia que meu sonho era vir estudar aqui, mas tivemos quase dois anos para conviver. Convivemos, nos amamos, ou eu amei, já nem sei. Aí não tivemos coragem de mostrar um para o outro que dava para continuar, que era possível se fazer muito bem mesmo que eu viesse embora, mesmo que você pudesse (depois) vir atrás de mim ou que eu voltasse (atrás) e ficasse aí ao seu lado. Não queria me ver desistir de sonhos, porque são eles que me fazem feliz, é eu sei. Só que aí, desisti de você. Desisti não, abri mão. Deixei você imaginar que eu estava feliz com a história de vir para sempre e nunca mais voltar para a minha cidade. Nossa, talvez. Esquecemos que não tem para sempre, nem nunca mais. 
Aí...Quem sabe no futuro, quem sabe só no passado, quem sabe por acaso, quem sabe nunca foi. Quem sabe? Você. Você sabe a resposta. Eu também, mas ainda fico explicando, replicando, condenando. Explicando pro meu coração que é impossível decifrar o futuro, que é impossível mudar a decisão de alguém. Eu não mudei a minha, mas agora só posso dizer uma coisa: você não conseguiria me fazer feliz. Porque o que sobra de mistério, falta de coragem para jogar tudo para o ar e correr riscos de mãos dadas. 

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Para nada

Não precisa dizer nada, 
te vejo sereno, moreno,
passear pela vida...
A minha. A delas.
Àquelas!

Ai delas. 
Não tem chão,
Nem mão,
Só explosão.
Quem vai ser são
E dizer mais uma vez não.
Não. Não. E NÃO!
mesmo que boca provoque,
invoque. Me invoque!

É assim,
Vens em mim
sem aba, 
sem mágoa,
Mas se voa,
traz de volta meu Pessoa.

E fica sem medo.
Sem tempo.
E chega de Soslaio
Sem ensaio. 

Pela  porta, 
Não importa.
Nem explica.
Implica. 
Complica. 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sala de espera

Esperar é atordoador. Essa palavra nem existe, mas só um neologismo para explicar a sensação eterna da espera. Hoje, tinha médico do coração às 11h50 (cardiologista para vocês). Preferi chegar 10 minutos antes do marcado para não ficar na sala de espera por horas, mas minha mãe me convenceu de que em plenas férias não deveria ter muita gente, logo seria atendida. Cheguei sozinha no hospital e para o meu espanto a espera seria longa, pouco mais de três horas. É, nas férias as pessoas também adoecem.
Sentei quieta logo nas primeiras cadeiras, coloquei Paul McCartney para tocar, conectei o gtalk e fiquei resolvendo coisas do trabalho pelo celular. Afinal, perderia a manhã na espera. Uma manhã que não tem volta. Quer dizer: isso é perder? Eu vou para uma consulta para ver se meu coração anda bem, quando eu mesma sei que ele nem anda. Muitas pontes que deveriam ter passado continua aqui, presente, perturbando os meus sonhos e até minha realidade. Quando o sopro está quase sumindo, quase sarado... aí o caminho se repete, tentando me levar para novas torres, novos tours, me fazendo descobrir o mundo. Talvez eu precise descobrir o meu mundo. SOZINHA. Para que aquele teu mundo não me encante tanto.
Minha senha era 384. Chamaram todos os números, chegou a quase 600, e nada do meu. A inquietação começou, logo veio o estresse e nem as músicas mais legais do meu celular ajudaram. Era uma angustia de ir ficando para trás, ficar sozinha, ser esquecida ... Porque cada pessoa que sentava ao meu lado e puxava uma conversa, mesmo contra minha vontade, com o passar das horas foi seguindo o seu caminho e eu fui cada vez mais me afundando naquela cadeira, já estava até deitada na cadeira. Zerei os jogos do celular, acabou minha playlist, esgotou o assunto nas mídias sociais e eu continuava ali...
Se fosse naqueles roteiros de Hollywood eu estaria “meeega” arrumada, com uma bolsa incrível e conheceria um homem lindo, educado, rico, solteiro e logo eu descobriria que era o amor da minha vida. Que ele tinha o mesmo gosto musical que eu, tinha lido os mesmos filósofos e autores e ainda tinha amigos em comum. Coisa de destino. Mas, como eu vivo em pura realidade o que aconteceu mesmo foi uma depressão profunda, aquele sentimento de abandono, que um dia eu estarei sozinha e preciso me acostumar.
A médica me chamou. Aí o frio na barriga aumentou, o estômago, as mãos e os pés ficaram logo gelados. Entrei na sala, fechei a porta e descobri que o meu coração não anda, ele rasteja. Anda arranhando a pronúncia de qualquer catalisador para acelerar a reação. Química. Física. Nada racional.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Souriez à Paris



Ele viajou para o verão. Iria aproveitar dias luminosos e cheios de aventura no velho mundo. Sozinho. Mas, dias antes da viagem, gozou do outono. Foi ao parque central da cidade, encostou numa árvore, tirou um livro da mochila e ficou lá, esperando que ela chegasse. Lá vinha ela, cabelos soltos ao vento, com a pele limpa, refletindo nos olhos aquele sol longínquo.
Júlia correu em direção a Matheus e abraçou-o. Parecia até que ele estava voltando, que não se viam há meses. Ela começou a sentir falta dele antes que ele entrasse naquele voo. Matheus aproveitou o abraço para guardar os perfumes dos cabelos dela, afinal seria algum tempo longe. Era um cheirinho fraco e doce, mas tão bom, que chegava a ser macio. Ele também sentiria falta.
Os dois caminharam pelo parque, tomaram sorvete. Ela de morango, ele de creme. Não eram a combinação perfeita de morango e brigadeiro, porque ela já não esperava qualquer perfeição. Ele muito menos. Matheus provocava de uma maneira espontânea os sorrisos de Júlia, os sorrisos mais verdadeiros que ele já vira, uma felicidade em "slow motion". 
Ele não fez fotos daquele dia, pois não tinha câmera. No entanto, quando embarcou no boeing lembrou de cada momento daquela despedida. Júlia entregou um guia de Paris, com uma carta dentro, mas que ele só poderia abrir quando estivesse quase aterrizando na Cidade Luz. A curiosidade para ver se as letras dela eram como ele imaginava era quase insuportável, mas aguentou. Suportou tão bem tantas horas de viagem e a ansiedade que esqueceu de abrir a carta no avião. Quando chegou a Paris, já nem tinha tempo para mandar mensagens ou lembrar de Júlia.  Ele até lembrava, afinal ela vivia usando expressões em francês e sonhando morar em Paris. Andar pelas ruas da capital francesa, assistir vários grupos musicais cantando pela cidade e até bailarinas fazendo piruetas nas calçadas lembravam Júlia. Ela estava ali, sem nem mesmo estar. Abril acabou, o dinheiro também e ele voltou para casa. Com alguns amores na cabeça (?). 
Os dias passaram, ela sentia bem mais falta dele, queria saber cada detalhe da viagem, mas ele voltou exausto. Contou o essencial e nada mais. Só que Júlia era detalhista, ficou um pouco decepcionada. Não reclamou, nem fez muitas perguntas, ele sabia da curiosidade da menina e ainda sim não se importou. Nem a palavra saudade mencionou, apenas abraçou-a para renovar o cheirinho que tinha guardado e levou-a para casa. Nunca mais se falaram. 
Desde a última vez que se viram ela não soube mais dele, talvez estivesse voltado para àquela cidade linda. Só saberia vendo. Ela juntou algum dinheiro para ir a Paris e procurar Matheus, ele podia ter ficado perdido por lá. Fez um tour pela Europa, procurando em qualquer homem alto alguns olhos caramelados, cheios de vida e esperança, como eram os do amado. Ela se perdeu em muitos corpos, mas nunca mais no dele. Ela casou e construiu um jardim na varanda de casa, para esperar...
"E ele, por onde anda?
- Pelas ruas de um Porto. Amando mulheres, garotas, meninas… Amando todas..." (Caio F)