quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sala de espera

Esperar é atordoador. Essa palavra nem existe, mas só um neologismo para explicar a sensação eterna da espera. Hoje, tinha médico do coração às 11h50 (cardiologista para vocês). Preferi chegar 10 minutos antes do marcado para não ficar na sala de espera por horas, mas minha mãe me convenceu de que em plenas férias não deveria ter muita gente, logo seria atendida. Cheguei sozinha no hospital e para o meu espanto a espera seria longa, pouco mais de três horas. É, nas férias as pessoas também adoecem.
Sentei quieta logo nas primeiras cadeiras, coloquei Paul McCartney para tocar, conectei o gtalk e fiquei resolvendo coisas do trabalho pelo celular. Afinal, perderia a manhã na espera. Uma manhã que não tem volta. Quer dizer: isso é perder? Eu vou para uma consulta para ver se meu coração anda bem, quando eu mesma sei que ele nem anda. Muitas pontes que deveriam ter passado continua aqui, presente, perturbando os meus sonhos e até minha realidade. Quando o sopro está quase sumindo, quase sarado... aí o caminho se repete, tentando me levar para novas torres, novos tours, me fazendo descobrir o mundo. Talvez eu precise descobrir o meu mundo. SOZINHA. Para que aquele teu mundo não me encante tanto.
Minha senha era 384. Chamaram todos os números, chegou a quase 600, e nada do meu. A inquietação começou, logo veio o estresse e nem as músicas mais legais do meu celular ajudaram. Era uma angustia de ir ficando para trás, ficar sozinha, ser esquecida ... Porque cada pessoa que sentava ao meu lado e puxava uma conversa, mesmo contra minha vontade, com o passar das horas foi seguindo o seu caminho e eu fui cada vez mais me afundando naquela cadeira, já estava até deitada na cadeira. Zerei os jogos do celular, acabou minha playlist, esgotou o assunto nas mídias sociais e eu continuava ali...
Se fosse naqueles roteiros de Hollywood eu estaria “meeega” arrumada, com uma bolsa incrível e conheceria um homem lindo, educado, rico, solteiro e logo eu descobriria que era o amor da minha vida. Que ele tinha o mesmo gosto musical que eu, tinha lido os mesmos filósofos e autores e ainda tinha amigos em comum. Coisa de destino. Mas, como eu vivo em pura realidade o que aconteceu mesmo foi uma depressão profunda, aquele sentimento de abandono, que um dia eu estarei sozinha e preciso me acostumar.
A médica me chamou. Aí o frio na barriga aumentou, o estômago, as mãos e os pés ficaram logo gelados. Entrei na sala, fechei a porta e descobri que o meu coração não anda, ele rasteja. Anda arranhando a pronúncia de qualquer catalisador para acelerar a reação. Química. Física. Nada racional.

Um comentário:

Tamires Lima disse...

"Me espera amor que estou chegando,
Depois do inverno a vida em cores,
Me espera amor nossa temporada das flores..."


Minha linda, assim que li teu texto, me lembrei de Leoni com Temporada das flores, que acho tão linda.

Mas eu sei que a espera cansa, ainda mais pra nós, que temos pressa.

Mas teu texto foi tão perfeito, tão cuidadosamente escrito, que fiquei pensando nos momentos que perdemos por medo de apostar.

Parabéns, minha linda! Escreves com a alma, tão raro de ver por aí!

Te amo muito, muito!

Estava com saudades daqui.
Beijo doce, flor.