segunda-feira, 4 de julho de 2011

Souriez à Paris



Ele viajou para o verão. Iria aproveitar dias luminosos e cheios de aventura no velho mundo. Sozinho. Mas, dias antes da viagem, gozou do outono. Foi ao parque central da cidade, encostou numa árvore, tirou um livro da mochila e ficou lá, esperando que ela chegasse. Lá vinha ela, cabelos soltos ao vento, com a pele limpa, refletindo nos olhos aquele sol longínquo.
Júlia correu em direção a Matheus e abraçou-o. Parecia até que ele estava voltando, que não se viam há meses. Ela começou a sentir falta dele antes que ele entrasse naquele voo. Matheus aproveitou o abraço para guardar os perfumes dos cabelos dela, afinal seria algum tempo longe. Era um cheirinho fraco e doce, mas tão bom, que chegava a ser macio. Ele também sentiria falta.
Os dois caminharam pelo parque, tomaram sorvete. Ela de morango, ele de creme. Não eram a combinação perfeita de morango e brigadeiro, porque ela já não esperava qualquer perfeição. Ele muito menos. Matheus provocava de uma maneira espontânea os sorrisos de Júlia, os sorrisos mais verdadeiros que ele já vira, uma felicidade em "slow motion". 
Ele não fez fotos daquele dia, pois não tinha câmera. No entanto, quando embarcou no boeing lembrou de cada momento daquela despedida. Júlia entregou um guia de Paris, com uma carta dentro, mas que ele só poderia abrir quando estivesse quase aterrizando na Cidade Luz. A curiosidade para ver se as letras dela eram como ele imaginava era quase insuportável, mas aguentou. Suportou tão bem tantas horas de viagem e a ansiedade que esqueceu de abrir a carta no avião. Quando chegou a Paris, já nem tinha tempo para mandar mensagens ou lembrar de Júlia.  Ele até lembrava, afinal ela vivia usando expressões em francês e sonhando morar em Paris. Andar pelas ruas da capital francesa, assistir vários grupos musicais cantando pela cidade e até bailarinas fazendo piruetas nas calçadas lembravam Júlia. Ela estava ali, sem nem mesmo estar. Abril acabou, o dinheiro também e ele voltou para casa. Com alguns amores na cabeça (?). 
Os dias passaram, ela sentia bem mais falta dele, queria saber cada detalhe da viagem, mas ele voltou exausto. Contou o essencial e nada mais. Só que Júlia era detalhista, ficou um pouco decepcionada. Não reclamou, nem fez muitas perguntas, ele sabia da curiosidade da menina e ainda sim não se importou. Nem a palavra saudade mencionou, apenas abraçou-a para renovar o cheirinho que tinha guardado e levou-a para casa. Nunca mais se falaram. 
Desde a última vez que se viram ela não soube mais dele, talvez estivesse voltado para àquela cidade linda. Só saberia vendo. Ela juntou algum dinheiro para ir a Paris e procurar Matheus, ele podia ter ficado perdido por lá. Fez um tour pela Europa, procurando em qualquer homem alto alguns olhos caramelados, cheios de vida e esperança, como eram os do amado. Ela se perdeu em muitos corpos, mas nunca mais no dele. Ela casou e construiu um jardim na varanda de casa, para esperar...
"E ele, por onde anda?
- Pelas ruas de um Porto. Amando mulheres, garotas, meninas… Amando todas..." (Caio F)

Nenhum comentário: