terça-feira, 2 de novembro de 2010

Por aí num sábado à noite

O paladar pedia uma cerveja. Só aquele líquido gelado, amargo e que provocava reviravoltas no cérebro faria bem a Luiza. Uma cerveja com os amigos numa noite quente e num barzinho qualquer, falando besteiras e rindo da vida alheia. Afinal, falar da vida alheia só pode ser besteira. Ligou para todos os amigos, estava de folga e revê-los faria muito bem naquela noite de sábado. Todos estavam ocupados, provavelmente aconchegados nos braços das namoradas, amados e amantes. Sei lá. Só sei que nem atender ao telefone puderam.
Luiza colocou a roupa mais largada. Uma calça saruel, uma blusa coloridinha de uma banda de rock, um sapato fluor oxford e um relógio meio apagadinho. Era inegável, ela tinha estilo, mesmo sem vontade de se arrumar. Não passou maquiagem alguma e amarrou o longo cabelo num coque meio desfeito. Mas ainda sim estava bonita. Luiza tinha um rosto iluminado e uma expressão de saúde e felicidade, mesmo que fosse bem o contrário. Não tinha companhia, mas a vontade de beber continuava. Ela chegou sozinha no bar de sempre, sentou no balcão e ficou lá, pensando na vida, nos amigos, na profissão e num futuro que ela nem sabia se tinha. Pediu uma tequila, logo virou-a, sem sal e sem limão e pediu uma cerveja. O garçom tentou puxar conversa, entretanto contraditoriamente ela não queria bater papo furado. Deu alguma patada nele e virou o rosto. Queria ficar ali quieta, apreciando o gosto da Heineken que tinha na mão e viajando nas loucuras que estava arquitetando para o próximo ano. Uma viagem quem sabe. Um curso de pós-graduação em outro país. Luiza sabia que não tinha mais como ficar naquela cidade, trabalhando na mesma coisa e indo para o mesmo bar todo final de semana  ainda mais, agora, sozinha.
Ela não reclamava do namoro dos amigos. Sabia que estavam felizes, mas os sábados passariam a ser depressivos. A solução, diziam os conhecidos, era arrumar uma paixonite, qualquer casinho desses de fazer perder a cabeça, mas Luiza não queria, estava sem paciência para conquistar alguém ou fingir acreditar nas besteirinhas bonitinhas que o cara diria para agradá-la. Definitivamente para tudo isso é preciso saco. Ela nem se quer dava o trabalho de olhar com outros olhos um rapaz bonito, pois seria trabalhoso desfazer a confusão se ele se interessasse. Era tediosa a vida dela, mas irritante mesmo era vê-la ali naquele velho bar bebendo, aos pouquinhos, aquela cerveja sozinha. Ninguém se aproximava, tinha uma aura de proteção em volta dela. Mas nem podia reclamar, dava motivo para que a achassem insuportavelmente irritante.
Depois de seis ou oito cervejas, ela estava animada, ousada e engraçada. Subiu no balcão, tirou a roupa e festejou alguma coisa que parecia lhe deixar feliz. Festejou as cervejas, talvez. Não havia amigos para carregá-la, nem para impedir que tirasse a roupa. Os garçons nem sequer tentaram tirá-la, tinham medo da garota-bonitinha-estranhamente-maluca. Ela divertiu os clientes e gargalhou um pouco. Desceu do seu palco, pegou o celular e foi parar na casa de um desconhecido, para fofocar é que não foi. Luiza tinha surtado e não tinha ninguém para perceber seus primeiros devaneios.


2 comentários:

Elania Costa disse...

FORTE :X e intenso. Gostei do conto '-'.

Alana Fontenelle disse...

Eu já fui Luiza...