quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Palco


A carreia de bailarina é sempre uma incógnita. Assim como são todas as outras carreiras. A diferença é que você depende de um passado que nem lembra muito bem, a vontade da mãe de te ver dando os primeiros saltinhos com três anos dentro de uma roupa toda rosinha com tchutchu. Depois vai depender da sua vontade de encenar piruetas nos palcos, da vontade de abrir mão de namorados na adolescência para ficar horas e horas para aprender um fouetté, de acostumar a dormir pouco para dar conta de aprender a matéria da escola que a aula era bem na hora do seu ensaio geral, de não ter finais de semana, de ter uma alimentação regrada, peso completamente controlado e não morrer de se entupir de doces naquelas festas de família. É preciso aprender a conviver com dores infindáveis por anos, décadas e para a vida inteira, mesmo quando já não fizer mais exercícios físicos. E aí aprender a não enlouquecer por não poder mais fazer aquele velho ritual de entrar nos palcos: entrar na coxia 1h antes de tocar a primeira campa de abertura do espetáculo, se aquecer em silêncio, lembrando cada 8 das coreografias mentalmente e dar três beijos no chão do PALCO, que é onde cada figura de linguagem ganha vida, a sua. 

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