domingo, 12 de setembro de 2010

Noite de agosto


Estava de salto alto e um tanto colorida, talvez um pouco arrumada para aquele lugar. Antes de entrar, passou por pessoas apáticas, bêbadas e drogadas. Não fez análises, apenas continuou andando. Subiu alguns degraus, desceu outros. Foi surpreendida pela sua diferença, não a que ela se orgulhava em carregar, mas a estética: morena alta, com decotes e mini saia. 
Chegou ao balcão e pediu um copo d'água. Era preciso se embriagar sem estragar a festa. Um rapaz ofereceu uma cerveja, ela não pensou muito e o convidou para dançar. Assim  mesmo sem fazer sentido. Ela mesma já não era coerente há algum tempo. Preferia chamar atenção pela inteligência, no entanto carregava maquiagem, vestidos curtos e salto por onde andava. Apesar de pensar diferente da maioria das mulheres ainda carregava a carga genética xx. Queria tanto ser moderninha e cheia de revolução, mas gostava de ler autores antigos e agia como mulheres do século XX. Ela carregava contradição.
Parou de dançar, virou a cerveja do moço de uma vez, abriu a porta da rua e saiu na chuva. Não gostava da música que tocava, mas também não gosta de muitos dos sons que escutava. É que eles pararam de fazer sentido depois que agosto passou. Agosto tinha sido tão misterioso, ansioso e revelador. Mas...
Lá vinha setembro tão doce, tão comprometido e cheio de aventura. Era sempre assim, setembro prometia ser colorido, palpável e macio, quase um sonho, mas terminava incolor e dolorido. Não importava o ano, o país ou o coração: seria sempre um mês mágico e sem final feliz. 

2 comentários:

Unknown disse...

eu li pra escapar dos feitiços!
oeaiuoaeiuoeaea
muito bom o texto juxxia!

gcavalcanti disse...

Mulheres são mesmo cheias de contradições. (:
Lindo seu texto.