sábado, 17 de julho de 2010



Foram dez horas de ensaio para o novo espetáculo, estava exausta.  O Coreógrafo era exigente e queria 24 fouettés. Só queria tomar um banho e deitar na cama. Já eram quase 22h quando chegou em casa. Estava sozinha, todos tinham viajado: pai, mãe e irmã. Tentou trancar a porta rápido, sempre teve medo do escuro. Ao olhar para o jardim viu um coelho branco com um casaco e um relógio na mão, falando sozinho: 
- Estou atrasado! Estou atrasado!
Aquela cena já acontecera antes e não era nenhum dèjá vu. Não podia acreditar no que via. Certamente estava sonhando, havia mesmo lido Alice no País das Maravilhas naquela semana. Estaria alucinando? Falou em voz alta para testar, as palavras soaram normais. Tentou lembrar que percurso fez para chegar a casa, sem nenhuma dificuldade o remontou. Esfregou os olhos, no entanto, o coelho ainda estava lá.
Colocou a chave de volta na fechadura, girou quatro vezes, com cuidado para não assustar ninguém. Só que ele estava realmente tão atrasado que nem ao menos se importou com a presença dela.  Ele começou a correr, e foi diminuindo de tamanho, entre as flores.
Assustada, com a voz um pouco curiosa e irônica, disse:
- Então o tal elixir que encolhe existe mesmo?
Ela não podia acreditar. Cética, desde pequena, saiu correndo para alcançar o coelho. Era tarde demais, ele havia desaparecido. Não tinha nenhuma toca por ali. Com persistência, continuou tentando enxergá-lo, já estava escuro e a visão era traiçoeira.
Cansada de procurar... "continuou ali sentada, com os olhos fechados, quase acreditando estar no País das Maravilhas, mas sabendo que bastaria abrir de novo os olhos e tudo voltaria à prosaica realidade".
Ainda era grande, não podia habitar a caixinha de música de ninguém.



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