segunda-feira, 27 de junho de 2011

Torre de babel


Podia dizer o que quisesse, só o vento poderia entender. Estava sozinha, deitada naquela cama, noutra cidade, noutro país, com pessoas que só falavam inglês, francês, alemão e espanhol. Qualquer palavra em português seria mero grunhido. Ela sentia saudades de casa, da comida da mãe, do som do violão do pai e das conversas com a irmã caçula, mas era o sonho dela estudar na Argentina e viver novas aventuras.
Estava em Buenos Aires fazia pouco mais de 2 semanas e já conhecia muitos lugares na cidade, sentia-se tão bem, que não pensava em voltar para casa. Não tinha vivido nenhuma grande aventura, ao menos que descer na estação de metro errada contasse. Pensava sim todos os dias no namorado que havia deixado para seguir o sonho. Ele adoraria andar pela capital argentina, abraçado naquele frio, falando sobre passeios pelo rio Sena, lá no velho mundo. Talvez a conversa fosse sobre novas coisas, novos lugares e talvez eles. Vai saber!
Ele nem sabia da saudade, ela não suportou a ideia de mais uma vez viver um relacionamento a distância. Por isso, decidiu terminar algum tempo antes da viagem. Meses antes, sejamos sinceros. Ela não teve coragem de continuar o relacionamento até vésperas da viagem, com a desculpa de que ele se machucaria, mas na verdade, ela tinha medo mesmo era de desistir do sonho por causa da paixão por ele. Ela nunca falou isso para ninguém, mas deitada naquela cama, dividindo quarto com estrangeiros, ela podia falar qualquer coisa. E até mesmo chorar. Ninguém poderia julgá-la, nem emitir qualquer opinião sobre o que ela fizera. Não seria condenada em qualquer língua, só pela própria recordação. 

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