Hoje, eu errei o caminho de
casa. Lembrei daquela vez que erraste a rua e entraste na contramão, tomamos um
susto muito grande e depois rimos da nossa descontração. A gente estava
conversando, falando sobre qualquer coisa importante, que já não lembro. Eu
gostava de falar sobre o que fosse contigo. A gente fingia discutir sério.
Muitas vezes brigava por não concordar com o que o outro dizia. Tantas vezes eu
fechava a cara, quando parecias não te importar em como eu pensava. Mas na
maioria das vezes, aprendíamos muito um com o outro. Ríamos. Achávamos
engraçado falar tanta bobagem.
Ontem, eu errei o caminho de
casa. Entrei numa farmácia e fiquei andando entre os corredores. Parei no de
perfumes e desodorantes. Eu só ia passar. Mas aí vi o vidro de desodorante que
usavas. Saia do banheiro, depois do banho,
depois de um ritual para se enxugar, e entrava no quarto agitando o vidro de
desodorante para se borrifar ali. Quando vi o vidro de desodorante, eu não ia parar. Não ia pegar. Não ia sentir
o cheio. Só que quando eu percebi, já estava espirrando no ar para relembrar
teu cheiro. Como era gostoso! Quis comprar um vidro só para ter comigo em pote
o cheiro de felicidade. Mas não era exatamente igual. Faltava uma química
daquele desodorante com a tua pele para ser o meu odor de profunda felicidade.
Só passei um pouco no meu braço, para mais tarde te lembrar.
Semana passada, eu errei o
caminho da casa. Fui parar na tua. Passei em frente, olhei para cima, contei 5
andares... olhei para a janela do teu quarto, na esperança de saber alguma
coisa de ti. Não estavas lá, como não estás mais aí para a minha vida, meus
problemas, minha felicidade. Não estavas, como me disseste que estarias. Eu
quis interfonar, ouvir tua voz e correr, como as crianças levadas com as
campainhas. Só que fui levada de lá para bem longe, fugindo de um amor que me
acompanha diariamente.
Mês passado, eu errei o
caminho de casa. Bebi três caipirinhas e minha saudade falou mais alto que
tudo. Liguei, chorei, implorei que pensasses em mim, quando nem eu mesma podia
fazer isso por mim. Tu foste lá, entraste no bar, foste doce (como todas as
malditas vezes que eu te vi) e me levaste embora. Achei que me levarias para
casa. Levaste para tua. Cuidaste de mim, como quem cuida de um amor que está
perdido. Tinha carinho, compaixão e amor. Só não tinha tu, porque estavas
perdido, num caminho que nem eu errando posso encontrar.
Dois meses atrás, eu errei o
caminho de casa. Sai da tua e fui para um lugar onde quase ninguém pode estar
em vida: o inferno. Saí do paraíso, onde o amor era nobre e entrei no descaso.
Amanhã, eu vou acertar o caminho de casa. Vou
voltar a ser quem eu era e ainda melhor, serei uma pessoa mais bonita e sincera
do que antes. Não vou deixar de doar o meu amor, tampouco vou te esquecer. Vou
te levar comigo, mesmo que não peças isso.